domingo, 14 de fevereiro de 2010

O CASO BORIS




Vamos aprender a pensar, gente?

Os golpistas de 1964 sabiam o que estavam fazendo quando tiraram filosofia do currículo escolar. Sem estudar filosofia não se aprende a pensar; gente que não sabe pensar é mais fácil engambelar, manter na submissão. Como eram uns ignorantões, nivelaram por baixo, impuseram a "iguinorança".


Repressão ao movimento estudantil no Largo 
São Francisco, 1977/ Foto Amancio Chiodi


Ora veja que agora se dá um auê porque Boris Casoy tripudiou sobre dois garis que, no final de dezembro, apareciam na TV Bandeirantes nos desejando felicidades em 2010. Disse Boris:
“Que merda... Dois lixeiros desejando felicidades do alto das suas vassouras. Dois lixeiros... (ouve-se a risota zombeteira do Boris) O mais baixo da escala de trabalho...”
Nisso o técnico de som grita “deu pau”, ou seja, estavam os espectadores do Jornal da Band ouvindo, o microfone continuava aberto. Eis que a 9 de fevereiro, um quarto gari se soma a outros três abrindo ação judicial contra Boris e a Band. Demilson Emidio dos Santos, paraibano de Campina Grande, pede indenização por “danos morais”.
A notícia no saite Espaço Vital vem acompanhada de comentários de internautas, e o que se vê? Boa parte não sabe pensar, não sabe filosofar. Um diz que precisa ver se o Boris sabia que o microfone estava “no ar”... Outro – e jornalista! – diz que entrar na justiça deve ser ideia de advogado querendo aparecer e ganhar dinheiro. E a maioria não percebe que Boris pedir desculpa não o absolve. É o mesmo que racista pedir desculpa por achar que “negro é inferior”, que nazista se desculpar por achar que “judeu tem que morrer”. Desculpar-se não muda a índole do ofensor, por isso o caminho é a Justiça, maneira “legal” de salvaguardar o processo civilizatório dessa gente preconceituosa e arrogante.





Repressão ao movimento estudantil em 1968 / Foto Amancio Chiodi


Em tempo: o redator do saite começa o texto chamando o comentário de Boris de “polêmico”. Bem, adjetivo, melhor não usar. Mas já que usou, o comentário não foi “polêmico”. Foi insultuoso.
Em tempo bis: Wilson Moreira dos Santos postou uma informação: “Segundo um amigo que trabalha na Band, o técnico de áudio foi demitido sumariamente.”
Comecei falando em ditadura, vamos encerrar com ela. No auge da repressão, Boris era ligado ao CCC, Comando de Caça aos Comunistas, bando de baderneiros que entre outros feitos invadiram um teatro onde se apresentava a peça Roda Viva, de Chico Buarque, espancaram atores e espectadores, arrebentaram o que viram pela frente. Continua o mesmo. Depois quando falo que a ditadura ainda não acabou ficam me olhando com olhar zombeteiro. Os processos humanos são longos, não terminam de repente.


VIVA O ADONIRAN














                                                          Capa de CD / Reprodução


Em tempo de burrice, se cuide dos coices


Por falar em ditadura, lembrei que este ano é o centenário de Adoniran Barbosa (1910-1982). Salve o Adoniran. Mas me lembrei porque nos anos 1970, quando éramos governados por cavalgaduras como Emílio Médici, Alfredo Buzaid, Jarbas Passarinho e outros luminares da burrice, o genial Adoniran resolveu gravar um disco com grandes sucessos de sua carreira. Pra quê.

A censura queria “corrigir” as letras, maravilhosas, no linguajar dos bairros populares em que Adoniran vivia, o Bixiga, o Brás. Para começar, o Samba do Arnesto tinha que virar “do Ernesto”, e não podia “nóis fumo, num encontremo ninguém”, mas sim “nós fomos, não encontramos ninguém”.
E Tiro ao Álvaro, magistralmente gravado por Elis Regina? Neca de “tauba de tiro ao álvaro”, tinha de mudar para “tábua de tiro ao alvo”. E “as mariposa, quando chega o frio, fica dando vórta em vórta da lâmpida pra se esquentá”, negativo, tinha de ser “as mariposas... ficam dando volta em volta da lâmpada pra se esquentarem”.
Em tempo de burrice, melhor se amoitar pra não levar coice. Adoniran deixou pra lá, desistiu da gravação. Guardou sua boca pra comer sua farinha.
Uma frase
Viva o bombeiro, o PM do bem!






























Nenhum comentário:

Postar um comentário