segunda-feira, 30 de agosto de 2010

DEU NO BLOG DO BOURDOUKAN...

...E O BLOG DO MYLTAINHO&AMANCIO PUBLICA






SEGUNDA-FEIRA, 30 DE AGOSTO DE 2010
Provocação e genocídio


Netanyahu e Abbas vão se encontrar nos Estados Unidos sob o guarda chuva de Obama.

Espera-se que cheguem a algum acordo, mas a depender do israelense, isso não será possível.

Netanyahu já tomou as providências e o recado não podia ser mais claro.

 Cortou a energia elétrica de Gaza e mandou fechar as torneiras.

Palestinos muçulmanos não poderão fazer as abluções de praxe para as orações já que a água é fundamental.

Ainda mais no mês do Ramadã.

Netanyahu espera que essa sua atitude crie alguma retaliação dos militantes do Hamas para que ele possa repetir pela milionésima vez, e com o apoio da mídia,  que os palestinos não querem a paz.

Mas a provocação não cessa aí.
ovadia+yosef.jpg
Rabino quer o genocídio de palestinos

O líder espiritual do partido Shas, rabino Ovaadia Yosef, importante aliado do governo, conclamou ao assassinato de todos os palestinos.

Convenhamos, promover o genocídio não é a melhor maneira de se buscar a paz...


sábado, 28 de agosto de 2010

FINANCIAL TIMES CENSURADO NOS JORNAIS BRASILEIROS

"Se os jornais brasileiros são pouco interessantes para o povo brasileiro, isso sucede porque o povo brasileiro é pouco interessante para os jornais".
Adaptado de Karl Marx, em A Liberdade de Imprensa, referindo-se à Prússia


Meu amigo Cesar Cavalcanti envia mensagem que reproduzo adaptando.
Na última quinta 26.8.2010, o Financial Times, um dos mais importantes jornais de economia e finanças do mundo, fez matéria sobre as eleições brasileiras.


O FT é conhecido pelas suas opiniões liberais e favoráveis ao mercado e a livre inciativa.


A Agência Estado colocou uma tradução aproximada. Dilma deve ter ‘vitória retumbante’, diz FT, e a campanha de Serra perdeu o rumo. Folha, O Globo, Estadão e Valor não julgaram de interesse dar espaço para o artigo.


O fato é surpreendente. Na propria quinta, a coluna Toda Mídia da Folha fez pequena menção. Talvez o motivo da censura da mídia gorda ao FT seja a afirmação do autor do artigo de que um dos erros da campanha de Serra foi acusar o governo e o PT de censurar a imprensa. O jornalista escreve, porém, que o País é um dos “menos censurados do mundo.”


O Globo diz em editorial da sexta 27.8 que existe ameaça de autoritarismo no continente, inclusive aqui.


“O Brasil não está livre de ações de grupos que visam a subjugar meios de comunicação independentes.”


Independentes? Se eles justamente dependem dos grandes anunciantes, boa parte multinacionais!


Também não vejo que alguém pretenda subjugar os meios de comunicação. O compromisso assinado por Dilma Rousseff da Declaração de Chapultepec mostra o apego da já quase certa futura presidente à liberdade de imprensa. Seu passado de vítima da ditadura reforça, tem repetido ela, esse compromisso.


Ao contrário dela, os jornalões e as tevezonas é que censuram, como fizeram agora com o FT.

O golpe de João Sembraço dos dossiês
Perdido quem nem cachorro em procissão, Serra faz campanha errática e aposta desesperado num tal dossiê que Dilma – acusa ele – mandou seu “grupo de inteligência” organizar, vasculhando declarações de IR da Receita Federal. Alguns pontos a pensar:


1. O filho adolescente da minha vizinha e guardiã de minha casa, menino de 14 anos, por peraltice usou meu computador durante um periodo em que saí de férias. Detalhe: o guri simplesmente abriu o computador sem problema algum em ultrapassar a senha que dispus, composta de oito letras e quatro algarismos. Portanto, para um especialista de qualquer Serviço Secreto não há problema em abrir o computador de uma servidora da Receita enquanto ela almoça. A questão é saber se quem fez o serviço foi gente do PT ou do PSDB...


2. Fala-se à larga por aí que a conta do famoso EJ, Eduardo Jorge, continha 4 milhões de reais. Por que a mídia não investiga como é que um ex-funcionário público de um governo anterior ao de Lula tem tanto dinheiro assim na conta?


3. Serra estaria confiando que a PF e o “Serviço” encontrem uma ligaçãozinha mesmo tênue entre algum petista e a violação do sigilo fiscal dos tucanos? Espera que tal fato se dê nas vésperas do 3 de outubro para reeditar 2006 quando “aloprados” do PT tentavam comprar um dossiê antitucano e com ajuda da mídia gorda levou as eleições para o segundo turno?

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

VIDA DE JORNALISTA DÁ UM ROMANCE

ZÉ HAMILTON RIBEIRO
“Que diabo de profissão é essa que põe o país do avesso?”
Por Mylton Severiano, textos 
e Amancio Chiodi, fotos

1ª. parte

Em 19 de setembro de 2007, fui entrevistar o José Hamilton Ribeiro junto com Letícia Nunes de Moraes, autora de Leituras da Revista Realidade, livro precioso sobre a revista cult da Abril, calcado em cartas de leitores da revista. Apareci na casa do Zé pela primeira vez depois de muitos e muitos anos, na rua Castro Alves, bairro da Aclimação, em São Paulo. Conversar sobre jornalismo, sobre Realidade, mitos do jornalismo, o Zé e a revista. Adiante vai a fita um, depois virá a fita dois, gravadas em gravador antigo, de fita cassete, que editei.
Aí, com o Amancio Chiodi, parceiro de texto e fotos, apareci na casa do Zé semanas depois. Nas duas vezes, Zé nos recebeu em almoço com sua mulher, a Cecília, já combalida, com câncer, de que morreria bem no lançamento da coleção facsimilar do jornal ex-, a 29 de junho de 2010. 


Esta é portanto também uma homenagem à Cecília, que foi bela muito bela, por fora e por dentro.
Bem, como diríamos, vida de jornalista dá romance. Vamos à entrevista com o Zé, que trabalhou na Realidade e continua na ativa, no Globo Rural, da Rede Globo, repórter inigualável no estilo caipira e na longevidade de “carteira assinada”: mais de 50 anos. Ele começou a entrevista para mim assim:
Eu sou Zé de Santa Rosa, animal de pouca fama, eu tanto corro no seco como eu corro na lama, e quando o marido chega me enfio embaixo da cama... Só que disso tudo aí, o único verso meu é “Eu sou Zé de Santa Rosa”, o resto é de Paulo Vanzolini.
Paulo Vanzolini, autor de Ronda e outros sucessos da MPB, é um dos muitos amigos que o Zé Hamilton fez durante sua carreira jornalística.
Encontra perigosos comunistas
Zé nasceu na zona rural de Ribeirão Preto, Santa Rosa do Viterbo, região de Ribeirão Preto, noroeste do Estado de São Paulo. Os avós tinham terra, mas na época “terra não valia”. Quando morreram os avós, dividiram entre filhos.
“A gente vivia modestamente, meu pai era funcionário da Prefeitura de São Simão, perto de Santa Rosa. Eventualmente dava uma safra de milho. Não havia estrada, nem comércio. Na época de jabuticaba, comia jabuticaba, na época de laranja, chupava laranja. Nada valia, hoje vale.”
Isto lembra Marília da minha infância: na época de manga ia buscar na chácara de um conhecido, enchia um saco de 60 quilos de manga, de graça. Hoje tudo tem valor.
Eram oito irmãos, Zé era o homem do meio, com duas irmãs antes dele.
“Tive uma infância feliz, pobre mas feliz. Uma coisa que me intrigava era que, ao lado da pobreza de Santa Rosa, tinha a fazenda dos Matarazzo. Era outro mundo pra nós. Fazenda Amália. Era do Henrique Dumont, irmão mais velho do Santos Dumont, que vendeu aos Matarazzo e exigiu que mantivessem o nome, Amália era o nome da mãe de Santos Dumont. É a história que corre lá.”
Escola só primeiro grau. Tinha grupo escolar. Para fazer ginásio, Zé foi para São Simão, cidade mais antiga. Também estudou em Casa Branca. Tinha a estrada de ferro, a Mogiana. Foi interno em colégio religioso, o marista, em Franca. Terminou ginásio em Ribeirão Preto e agora só lhe restava rumar para São Paulo, queria fazer curso de jornalismo.
Em Casa Branca, tinha curso de sociologia. E um jornalzinho. Lhe pediram um artigo. Os colegas lhe indicam romances para ler.
Em Santa Rosa tinha uma livrariazinha, da tia caçula do Zé, solteira, que vivia com a avó deles. A tia era motivo de piada, ia pela rua lendo, assinava o jornal Lar Católico, de Manhu-Mirim, em Minas, de uma editora de padres. Tinha umas revistinhas de quadrinhos.
“Em Casa Branca”, relembra Zé, “com um grupo que gostava de ler, e o Brasil fervia, 1954, o mar de lama, a Última Hora, e descobri que a confusão toda era provocada por um jornalista, Carlos Lacerda.
Mas que diabo de profissão é essa?”, pensava o Zé, “que põe o país do avesso?”
Um cascateiro na história
Sua turma passa a discutir o país. Isso influencia Zé a fazer jornalismo em São Paulo, na escola Casper Líbero. Zé não para de fazer brinquedos verbais:
“O sujeito fica velho quando acontecem duas coisas: primeiro, começa a esquecer coisas antigas; segunda coisa... o que é mesmo a segunda coisa?”
Não concluiu o curso na Casper. Encontrou lá “perigosos comunistas”, como José Carlos Delfiol, Paulo Patarra e sua futura mulher Judith. Uma coisa boa da escola é reunir jovens, geralmente bem intencionados, diz Zé.
“Dez por cento vai fazer jornalismo.”


A turma do Zé queria conhecer os bons, que trabalhavam na Folha, no Estadão, eram Hideo Onaga, Cláudio Abramo, Moacir Correia. No segundo ano, o grupo tomou o Centro Acadêmico. Zé vice-presidente. Empolgação.
“O objetivo era modesto: trocar todos os professores da escola e chamar os grandes jornalistas para dar aula lá.”
“Só” isso. Greve geral. Cada discurso! No segundo dia, o diretor ficou uma arara. Deram um aperto no Agnaldo, presidente do grêmio, ele renunciou.
“Fiquei eu com a greve na mão. Durou uma semana. O diretor então chamou os cabeças, eu, Paulo Patarra, Judith e Delfiol, e disse: não vamos aceitar a matrícula de vocês no ano que vem.”

Estavam banidos da escola. Zé acabaria voltando anos mais tarde como professor. Arrumou emprego na Rádio Bandeirantes, meia-noite a seis da manhã, e de hora em hora tinha noticiário. Ficava o Zé ouvindo BBC de Londres e outras rádios, telefonando pra plantão de polícia, atrás de notícia. Logo alguém chega:
“Cê tá louco? Todo o mundo que trabalha aqui chega antes de meia-noite, redige tudo, distribui pelos horários e vai dormir. Se acontecer alguma coisa grave, alguém te chama.”
Uma madrugada, cotucam o Zé. Tinha escorrido o morro do Marapé em Santos, com favela e tudo. Um jornalista, que era o chefe, veio para a rádio, botou umas latas, cadeiras, no corredor, pegou o microfone e ficou irradiando “direto do Marapé”. Ele ia chutando as latas, arrastando cadeiras, “estamos aqui no morro do Marapé, uma tragédia aconteceu aqui” etc.
Zé é um tipo de mineiro paulista, ele pede para não dar o nome do sujeito que fazia isso, mas um dia eu falo. As iniciais são E. F.
E o sujeito me demitiu duas vezes. Na próxima semana, continuamos.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

A ENFERMARIA DO MYLTAINHO - ilustrada por Amancius


TUÍTER NO BLOG

Enfim, entendo os muçulmanos que condenam mulher à morte por lapidação: estão na Idade da Pedra.
Reprodução

E os lapidadores domésticos?
A lei que o Lula aprovou e assinou proibindo castigos físicos contra crianças mesmo no lar tirou do armário gente insuspeita. Um promotor, titular da 4ª Promotoria de Justiça da Comarca de Joinville, Santa Catarina, Sérgio Ricardo Joesting, escreveu carta e Época de 26 de julho de 2010 publicou, em que o tarado pontifica:
“Os menores têm de respeitar os mais velhos, nem que seja do modo mais doido. Uns tapas, beliscões e puxões de orelha nunca fizeram mal a ninguém. Violência é uma coisa totalmente diferente de uma educação rígida. A violência que gera violência é aquela desmedida, aplicada a qualquer hora e sem motivação. Esta sim deve ser totalmente repelida. O Estado não pode intervir na educação dos pais.”
Heil, Hitler!
Reprodução

E um tal de Edson, eu nunca tinha ouvido falar nele, me pareceu cantor sertanejo, aparece na televisão dizendo que “bunda foi feita pra levar palmada”. O panaca diz ainda que, imagine, se um filho dele roubar, tem ele direito de bater pra corrigir. Bem, se um filho meu roubar, é porque sou um pilantra, que lhe dei mau exemplo. Daí que não adianta bater, só vai piorar, o ladrãozinho vai ficar é revoltado.
Em tempo: quando eu pisava no tomate, meu pai jamais me relou a mão, apenas me chamava para conversar, e eu ia já me corrigindo e sabendo que tinha feito merda.
Por falar nisso...
INFORMAÇÃO DE MERDA
Foto Amancio Chiodi
Vi nos jornais que a Polícia Federal aplicou moderníssimo sistema para detectar consumo de cocaína. Eles coletaram porções de dejetos nos esgotos de Brasília e, examinando segundo técnicas usadas por, entre outros países, Estados Unidos (os proibidores do uso de cocaína e outras drogas), daí avaliam a quantidade de uma substância que o cocainômano elimina pela urina, então ficam sabendo que naquele bairro, naquele quarteirão, naquela rua estão cheirando.
Reprodução

Ora bolas, como diria o Mário Quintana. Quanto gastam nessa pesquisa de merda? Que resultado obterão? Nos dejetos da PF aparece algum indício de uso de tal produto? Se não, será que eles bebem algum tipo de álcool? Fumam tabaco ou maconha?
Enfim, será que a PF não tem função mais importante que fuçar as vidas íntimas dos cidadãos?
Mas que mundo mais virado do avesso, sô! Que tal liberar as drogas proibidas e pôr as autoridades policiais a inventar métodos mais modernos para detectar e pôr na cadeia os corruptos?
Foto Amancio Chiodi

SOBRE BANHEIROS E PRIVADAS
Foto Amancio Chiodi
Do baú das minhas andanças pelaí
Vi uma vez um estudo em livro sobre como a humanidade evoluiu na matéria. Infelizmente perdi a pista.
Mas, em 1988, à frente de uma equipe de tv brasileira, junto com um gaúcho do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro, e a convite deste partido, fui para trás da “cortina de ferro”. Meus colegas de viagem eram Yeken Serri, diretor de cena; Paulino Senra, incomodador; João de Barros, repórter; e João Avelino, do Partidão, para fazer a ponte entre nós e os comunistas de lá.
Devíamos fazer documentário sobre a “perestroika” (mudança) detonada pelo Miguel Gorbachov, o que um ano depois resultaria no esfacelamento do bloco soviético.
Reprodução

EM PRAGA, visitando uma fábrica de automóveis, não me lembro o nome mas só podia ser Skoda, dos carros tchecos, perguntamos ao líder operário se a “glasnost” (transparência) e a “perestroika” (mudança) haviam chegado ali. Ele nos convidou a dar uma olhada nos banheiros, imundos, fedidos, nojentos.
[Uma coisa que abandonamos por civilização foi o agachar pra cagar e mijar. Passamos a fazê-lo sentados. Antropólogos, etnólogos, higienistas, médicos, quem nos ajuda nessa? Posso testemunhar que, quando me ocorre prisão de ventre, consigo me livrar agachando em cima do vaso, mas é desconfortável. No Exército, quando servi em Mato Grosso em 1959, os cagadouros eram dos que exigem posição agachada - como aliás todo animal, bípede, quadrúpede etc.]
Sei que, sendo Praga nossa última escala, antes de voltar ao Brasil e tentar vender o trabalho para alguma tv, ali resolvemos editar o material e transformá-lo no combinado documentário.
Foto Amancio Chiodi 

CHEGA ALTO MEMBRO do Partido Comunista tcheco para dar uma olhada no que estávamos fazendo. Com ele esgrimi uma manhã inteira. Implicou especialmente com a sequência em que o líder operário reclama da sujeira dos banheiros. O censor, que era um censor, pediu para eu tirar aquilo. Esbravejou:
“Não fica bem num documentário sério”, repetia, segundo a tradução da tradutora.
O líder dos operários da fábrica de automóveis tchecos havia declarado para nós:
“A perestroika ainda não chegou aos banheiros. Nos daríamos por satisfeitos se nossos banheiros fossem limpos.”
Que você acha? Não seria legal se os banheiros em geral fossem limpos? Bem, e que houvesse banheiros públicos limpos para todos. Na nossa casa cuidamos nós, mas na sua empresa que tal?
Reprodução



quinta-feira, 12 de agosto de 2010

O DIA EM QUE CRUMB RECEBEU A COLEÇÃO DO EX







Depois de passar pela FLIP e barbarizar, Crumb, sua mulher Aline Kominsky, e Gilbert Shelton foram à Livraria da Vila, na rua Fradique Coutinho, em São Paulo. Era terça-feira, dia 10 de agosto de 2010. Um delírio em que cerca de 500 pessoas queriam se aproximar deles, pedir autógrafos, fazer perguntas, ouvir. Perguntaram a Crumb, por exemplo, porque ele trocou o Estados Unidos - que havia acabado de criticar - pela França. O desenhista foi rápido na resposta: "A França em comparação com Estados Unidos é um carrinho de cachorro quente."


No meio desse tumulto, o fotógrafo Amancio Chiodi se aproximou da mesa. Ficou quieto, com a coleção do EX na mão, esperando o momento oportuno para entregar a obra a Crumb -- afinal, o EX era uma publicação independente feita na década de 70, mesma época em que o desenhista criava os seus personagens. Muitos deles estão nas páginas de números deste jornal.


Aline percebeu e perguntou a ele, por meio de sinais e com os olhos, o que era aquilo em sua mão. Amancio contou rapidamente, porque a multidão, os tradutores e os seguranças não estavam para interrupções. Crumb olhou, fez expressão de interesse, pegou a caixa na mão e agradeceu quatro vezes. Aline juntou as suas mãos e também agradeceu. Shelton, com chapéu panamá branco, observava tudo.


Na hora de ir embora, quando Crumb, literalmente, escalou a escada pelo lado oposto de modo a fugir da multidão, recomendou à mulher que pegasse aquela caixa. Ela deixou o resto dos presentes sobre a mesa, para os seus assistentes pegarem, agarrou e abraçou a série de EX e seguiu para o carro, enquanto ele ia ao banheiro.


Depois, os três partiram. Com a caixa do EX no colo.


Eis algumas fotos que Amancio Chiodi fez naquela noite, logo depois:




















TEU OLHAR MATA MAIS QUE BALA DE PM

Por Mylton Severiano

Adoniran centenário, se vivo fosse. Na década de 1970, ele resolveu lançar um disco com seus maiores sucessos. O censor da ditadura militar implicou com sua linguagem. Queria “corrigir” o português castiço de Adoniran, o português falado pelo povo do Bixiga, do Brás, do Bom Ritiro, aquela misturança de intaliano com português e nordestino. O censor queria que Adoniran falasse Ernesto em vez de Arnesto, nós fomos em vez de nóis fumo, tiro ao alvo em vez de tiro ao álvaro.
Adoniran desistiu do disco antológico.

Como Adoniran compôs
Como o censor queria
SAMBA DO ARNESTO
O Arnesto nos convidou
Prum samba, ele mora no Braz
Nóis fumo, num encontremo ninguém
Vortemo cuma baita duma réiva
Da outra vez nóis num vai mais
Nóis num semo tatu!

No outro dia encontremo co Arnesto
Que pediu discurpa mais nóis num aceitemo
Isso não se faz, Arnesto, nós num se importa
Mas você devia ter ponhado um recado na porta
(breque) Um recado assim, ói: "Ói, turma, num deu pra esperá
Aduvido que isso num faz mar, num tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever
Arnesto
SAMBA DO ERNESTO
O Ernesto nos convidou
Para um samba, ele mora no Braz
Nós fomos, não encontramos ninguém
Voltamos com uma baita duma raiva
Da outra vez nós não vamos mais
Nós não somos tatus!

No outro dia encontramos o Ernesto
Que pediu desculpas mas nós não aceitamos
Isso não se faz, Ernesto, não nos importamos
Mas você devia ter posto um recado na porta
(breque) Um recado assim: "Oi, turma, não deu pra esperar
Duvido que isso não faz mal, não tem importância,
Assinado em cruz porque não sei escrever
Ernesto


Hoje, se vivo fosse e compusesse Tiro ao Álvaro, a letra poderia terminar assim:
Teu olhar mata mais
Que bala de carabina
Que veneno, estricnina
Que peixeira de baiano.
Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóver
Mata mais
Que bala de revórver
(breque) Da PM paulista!


A PM paulista mata mais do que as Farc, com uma diferença fundamental: as Farc constituem pelas leis colombianas um grupo ilegal, e a PM é pelas leis brasileiras um grupo legal.

NEM TUDO ESTÁ PERDIDO
Viva o futebol-arte brasileiro!

DEU NA INTERNET

Como a mídia gorda torce e retorce a realidade
ou
Cadê o Jornalismo?
A sofisticação da grande mídia
Wladimir Pomar
Postado em 10 de agosto de 2010
Repostado e comentado por Mylton Severiano
Quem se der ao trabalho de acompanhar, por pouco que seja, o noticiário da grande mídia a respeito das atividades diárias dos candidatos à presidência da República poderá notar o grau de sofisticação que as empresas de comunicação alcançaram para demonstrar sua pretensa neutralidade. 
É verdade que elas não dedicam praticamente espaço algum ao que chamam de candidatos nanicos. O que, de imediato, já os classifica pejorativamente, embora isto pareça ser um senso comum na população. Portanto, quando o senso comum é de seu interesse, mesmo que seja incorreto do ponto de vista da vida democrática, a grande mídia não coloca qualquer um de seus inúmeros comentaristas políticos para explicar que tal conotação deveria ser repudiada. 
Por outro lado, ela dedica religiosamente o mesmo espaço de tempo para os três candidatos que considera não-nanicos, ou que possuem chances reais de disputar com sucesso a presidência. Ou seja, a grande mídia decidiu, não se sabe bem baseada em que critérios, que a candidata Marina Silva não é nanica, embora as pesquisas de intenção de voto indiquem que ela possui menos de 10% da preferência do eleitorado. 
No entanto, o aspecto mais sofisticado da cobertura dos grandes meios de comunicação às atividades diárias desses três candidatos está na própria cobertura. É verdade que eles têm alguma dificuldade de cobrir atividades eleitorais da candidata Marina porque tais atividades são, em geral, reduzidas. Mesmo assim, a mídia consegue ouvi-la, ou filmá-la no Senado, aparentemente para não ser acusada de excluir do espaço jornalístico uma das principais candidatas. 
Em relação aos outros dois candidatos, Dilma e Serra, a grande mídia supera a si própria. Dilma pode estar num comício, numa passeata, numa aglomeração popular, mas as imagens são quase sempre da própria Dilma, sozinha, discursando ou sendo entrevistada, com ênfase nos trechos em que ela acha o que deve ser feito. Serra, ao contrário, aparece sempre cercado de gente, sendo abraçado, colocando crianças no colo, conversando com as pessoas, e suas falas são curtas e diretas, divulgando promessas que não constam de seu programa de governo. 
Bem vistas as coisas, a grande mídia fez uma escolha e encontrou uma forma inteligente de mostrar sua preferência, aparentando neutralidade. Serra estaria com o povão, enquanto Dilma estaria longe desse contato popular. Serra diz o que vai fazer. Dilma acha o que pode fazer. O jornalismo se transformou em propaganda extremamente sofisticada. 
O que não parece ser o caso da Justiça Eleitoral, numa publicidade institucional que chama a população a exercer o direito democrático do voto. Nessa publicidade, a figura do futuro presidente recebendo a faixa presidencial é a de um homem. Numa campanha em que a grande mídia considera a existência de três pretendentes principais, sendo dois deles mulheres, apresentar o futuro presidente como um homem é, na melhor das hipóteses, um erro grosseiro. Na pior, uma propaganda subliminar. Espanta que as campanhas das candidatas não tenham protestado e entrado com uma representação para mudar tal publicidade.
Wladimir Pomar é analista político e escritor

Grande, Wladimir, na mosca. Por que não dizem logo que querem a volta do neoliberalismo desvairado que vendeu nossas empresas, quase que não sobrou sequer a Petrobras, que querem a volta do governo que tinha como porta-voz um sujeito que, no dizer do humorista Zé Simão, tinha “nojo de nóis”? Seria mais digno e mais democrático se dissessem que estão com Serra e dissessem por que estão com ele.
Quanto ao anúncio da Justiça Eleitoral, pondo um homem recebendo a faixa de presidente, com duas mulheres candidatas “principais”, é machismo, e aí é só lhes dando com um tijolo na testa.
Eis aliás bela pauta para quem tenha peito de fazer: qual agência fez o anúncio, quem foi o “criativo”, quem aprovou, quem levou o anúncio à Justiça Eleitoral, quem de lá aprovou, entrevista com todos eles, enfim, cadê o JORNALISMO?

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

NOVELA PARA LIBERTÁRIOS - CAP. 1




Foto Amancio Chiodi

Por Mylton Severiano, com roteiro originalíssimo de Venício A. de Lima

DA LIBERDADE DE EXPRESSÃO...
...ao direito à comunicação
Por Venício A. de Lima em 3/8/2010
Texto para exposição no Simpósio Mídia e Democracia promovido pela Universidade Católica de Brasília Virtual, Comissão Brasileira Justiça e Paz (CNBB) e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Distrito Federal, em 2/8/2010. Versão preliminar apareceu no Observatório da Imprensa nº 554, de 12/9/2009. Outra versão foi publicada como Introdução Geral a Liberdade de Expressão vs. Liberdade de Imprensa; Publisher Brasil, 2010.

Capítulo I
Imprensa gorda tem mais liberdade que você?
Apesar de ocupar uma posição de centralidade na "batalha das idéias" que se trava cotidianamente em nossa sociedade, o debate público das questões envolvidas na relação entre liberdade de expressão e liberdade da imprensa, sofre de uma interdição não declarada por parte dos grupos dominantes de mídia. A mera lembrança do tema sempre provoca imediatas rotulações de autoritarismo e de retorno à censura. 
Mesmo levando-se em conta o trauma ainda relativamente recente do regime militar (1964-1985), esse é dos muitos paradoxos históricos dos liberais brasileiros que nem sempre praticam o que afirmam defender. É, portanto, necessário e benéfico propor o debate público. 
Não me refiro aqui às complexidades do debate jurídico. Restrito ao universo das leis, feito em linguagem excludente e, muitas vezes, ignorando a realidade social concreta na qual a questão se coloca, mesmo assim ele se constitui em referência inescapável. Também não me refiro ao debate externo ao liberalismo, sobretudo àquele fundado na crítica marxista clássica. Refiro-me, apenas, ao debate interno, às premissas liberais consolidadas e praticadas em sociedades que têm servido de referência à nossa democracia, na perspectiva de construção do direito à comunicação centrado no indivíduo (e não em empresas) – razão última e sujeito de todas as liberdades e direitos.
Trata-se, na verdade, de sugerir questões – ainda que de maneira simplificada e breve – que ajudem a compreender se a minha ou a sua, leitor (a), liberdade de expressão pode ser considerada igual, equivalente ou simétrica à liberdade da imprensa controlada por um grande grupo empresarial de mídia.
A diferença entre liberdade de expressão e liberdade da imprensa realmente existe? Houve um período histórico em que essas liberdades foram consideradas equivalentes? Quais as condições necessárias para que a liberdade da imprensa contribua na construção de um debate público democrático?
Não perca, no 2º capítulo: quando começa a confusão entre liberdade de expressão e liberdade da imprensa

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

POLÊMICA SOBRE A PENA EDUCATIVA

Renato Souza comenta a matéria 
Assassinar ao volante, 
impunidade garantida,
escrita por Mylton Severiano e publicada no blog em 25 de julho.


"Assim caminha a uh-manidade. Pena educativa ?

 Ah! Mil-taynho, q bunitinho. Puressas & outras, q outros inhos, de filhinhos, vão continuar continuando. Atropelando, esmagando, esfarelando. Ainda bem q tua toga só roga."


O blog Myltainho&Amancio responde:

"Renato Souza, pena educativa melhor que pena puramente punitiva.  Já no século 17 que um penalista italiano, Marquês de Beccaria, em seu "Dos Delitos e das Penas", pregava que uma pena não pode ir além do que está na lei. A pena de prisão encerra em si o máximo de "punição", então não se pode enfiar criminosos em cafuas, sem direito a sol, sexo, televisão etc. Privação de liberdade só perde para pena de morte em matéria de punição. Pra quê então a bestialidade de celas piolhentas, sarnentas, sem banheiro decente, e todos amontoados que nem bichos?
Ora, então somos piores que os delinquentes?
Acho que uma boa "lição" no caso do Rafael atropelador vale mais que enfiar o rapaz no inferno das nossas prisões. E não só ele. Mas aí caberia uma "revolução" no sistema jurídico-penitenciário e na cabeça das pessoas, como você.
Da discussão nascem luzes. Em frente.