Adoniran centenário, se vivo fosse. Na década de 1970, ele resolveu lançar um disco com seus maiores sucessos. O censor da ditadura militar implicou com sua linguagem. Queria “corrigir” o português castiço de Adoniran, o português falado pelo povo do Bixiga, do Brás, do Bom Ritiro, aquela misturança de intaliano com português e nordestino. O censor queria que Adoniran falasse Ernesto em vez de Arnesto, nós fomos em vez de nóis fumo, tiro ao alvo em vez de tiro ao álvaro.
Adoniran desistiu do disco antológico.
Como Adoniran compôs | Como o censor queria |
SAMBA DO ARNESTO O Arnesto nos convidou Prum samba, ele mora no Braz Nóis fumo, num encontremo ninguém Vortemo cuma baita duma réiva Da outra vez nóis num vai mais Nóis num semo tatu! No outro dia encontremo co Arnesto Que pediu discurpa mais nóis num aceitemo Isso não se faz, Arnesto, nós num se importa Mas você devia ter ponhado um recado na porta (breque) Um recado assim, ói: "Ói, turma, num deu pra esperá Aduvido que isso num faz mar, num tem importância, Assinado em cruz porque não sei escrever Arnesto | SAMBA DO ERNESTO O Ernesto nos convidou Para um samba, ele mora no Braz Nós fomos, não encontramos ninguém Voltamos com uma baita duma raiva Da outra vez nós não vamos mais Nós não somos tatus! No outro dia encontramos o Ernesto Que pediu desculpas mas nós não aceitamos Isso não se faz, Ernesto, não nos importamos Mas você devia ter posto um recado na porta (breque) Um recado assim: "Oi, turma, não deu pra esperar Duvido que isso não faz mal, não tem importância, Assinado em cruz porque não sei escrever Ernesto |
Hoje, se vivo fosse e compusesse Tiro ao Álvaro, a letra poderia terminar assim:
Teu olhar mata mais
Que bala de carabina
Que veneno, estricnina
Que peixeira de baiano.
Que bala de carabina
Que veneno, estricnina
Que peixeira de baiano.
Teu olhar mata mais
Que atropelamento
De automóver
Mata mais
Que bala de revórver
Que atropelamento
De automóver
Mata mais
Que bala de revórver
(breque) Da PM paulista!
A PM paulista mata mais do que as Farc, com uma diferença fundamental: as Farc constituem pelas leis colombianas um grupo ilegal, e a PM é pelas leis brasileiras um grupo legal.
NEM TUDO ESTÁ PERDIDO
Viva o futebol-arte brasileiro!
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