terça-feira, 8 de março de 2011

AS LEIS DE IMIGRAÇÃO, AMPLIFICADAS PELA MÍDIA, NUTREM A PARALISIA PELO MEDO

Cristina R. Duran
O medo como instrumento de opressão e controle e a manipulação da mídia como ferramenta para a sua difusão estão na base dos vídeos On Translation: Fear/Miedo e On Translation: Miedo Jauf, apresentados na Estação Pinacoteca dentro da exposição Muntadas >> Espaço >> Controle, do artista catalão residente em Nova York Antoni Muntadas. Ambos tratam da dureza das políticas de imigração, dos sentimentos que elas geram e como são amplificadas na imprensa minando a auto-estima, a confiança e as possibilidades daqueles que procuram uma vida melhor em outros país. A não perder: a mostra permanece em cartaz até 8 de maio.

Em On Translation: Fear/Miedo, realizado em 2005 na fronteira entre os Estados Unidos e o México, mais precisamente em San Diego e Tijuana, Muntadas analisa a retórica que constrói e sustenta a fronteira, intercalando depoimentos tomados dos dois lados da divisa, a respeito dos sentimentos em relação ao desconhecido. Pelos depoimentos fica claro que ultrapassar o medo - amplificado pela burocracia, dificuldades geradas pelas leis e ecoado pela imprensa -- é a etapa mais difícil e dolorosa do percurso. Os austeros controles de vigilância vão além da condição de segurança tão alardeada pelos americanos desde o 11 de setembro. Eles existem desde muito antes disso. São estudadamente cruéis e quase derrotam os imigrantes antes de tentar dar o passo em frente. A língua, nestes casos, é mais um instrumento aterrorizador e de domínio já que ninguém se preocupa em falar outro idioma a não ser o inglês.

Na mesma linha, On Translation: Miedo Jauf, gravado em 2006 e 2007, traz o depoimento de mais de 30 pessoas localizadas em Tarifa e Tanger, o limite entre a Espanha e o Marrocos conhecido como Estreito de Gibraltar. Nele, o artista foca os entraves gerados pelas decisões políticas que afetam ambos os territórios e desembocam em leis de imigração quase impossíveis de cumprir. Uma vez mais, aflora o sentimento de medo nos depoimentos, derrubando qualquer possibilidade de construção de uma ponte cultural e solidária entre os dois povos. Ao contrário, ao ecoar amplamente a "audácia" dos imigrantes que tentam driblar as leis, a mídia alimenta ainda mais o preconceito e o medo das populações. As pessoas passam a ser vistas como inimigos e não como alguém que poderia somar na sociedade.

Em ambos os vídeos, a discussão desemboca em algo parecido com o debate sobre as leis que proíbem as drogas e acabam alimentando a indústria do tráfico dessas substâncias, gerando mortes, conflitos e violência. As conseqüências das leis de imigração são as mesmas, estimulando o tráfico de seres humanos e, igualmente, mortes, conflitos e violência. Sem contar o tremendo golpe na auto-estima destas populações remetendo-as à impossibilidade de lutar por um vida melhor.

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