terça-feira, 14 de dezembro de 2010

LULA & DILMA QUER CENSURA?

Invenção dos caras da mídia gorda.
Eles que começaram, e Jô Soares, que
é censurado, ainda vem encher o saco.

Jô é censurado e não percebe, ou finge que não vê. O programa deve ser horário nobre, máximo 21 h.


Por Mylton Severiano


8 DE DEZEMBRO DE 2010, madrugada. Começa o dia em que, há trinta anos, um norte-americano assassinou o britânico John Lennon, em 1980. No Brasil, desenrola-se na Rede Globo o programa do Jô Soares.

Não pode passar batida a entrevista que o ex-assessor de imprensa e amigo do presidente Lula, jornalista Ricardo Kotscho, concede naquela quarta-feira. Kotscho é questionado por Jô Soares sobre a cretinice inventada pela mídia gorda de que Lula quer impor censura sobre a “liberdade de expressão”.


Que eu saiba, foi a primeira vez que alguém, na própria sede da maioral da mídia gorda, disse que ela – que acusa o atual governo de censura – foi ela mesma, a mídia gorda, quem defendeu estado de exceção baseado justamente em… censura! O maldito 64.


No diálogo entre Ricardo Kotscho e Jô Soares, tomei a liberdade de interferir, e vão minhas interferências em negrito sublinhado. Atenção, eu não estava lá, não participei, minhas interferências são “virtuais”. Segue trecho do programa do Jô, com minhas interferências:


Jô Soares – O governo... parece que o governo está estudando a criação de um órgão pra controle, pra controle de conteúdo de rádio e televisão. O que você sabe dessa proposta, o que é que há de concreto e o que você acha disso?


Mylton – Mas está tudo sob controle. O programa do Jô vai ao ar quando o povo brasileiro dorme, que precisa trabalhar e levantar cedo. Só vagabundo, ocioso, rico, neurótico, aposentado, e os notívagos da sociedade, gente boa ou ruim, é que vê Jô Soares. Então para mim o programa do Jô é censurado.


Ricardo Kotscho – Olha, de concreto não há nada – até é bom levantar isso. Participei de um congresso, semana passada, na TV Cultura, sobre liberdade de imprensa, e estava esse negócio – o medo, o pânico, a censura, a volta da censura… Mas, quem fala isso, não viveu aquele tempo – eu vivi e eu sei como é que é…


– Não, eu também e eu sei, inclusive, que é inconstitucional…


Mylton – Mas Jô, você na ditadura enfiou o galho dentro... agora vem com isso de que cercear é inconstitucional, e na ditadura você entrou numa trip que, será que você poderia recordar? (Ele não responde hoje, mas Jô se omitiu na ditadura.)


Kotscho – É impossível, hoje nós vivemos em uma democracia…


– Então por que é que há essa onda, que tem até nome?


Kotscho – Então eu vou te falar: controle social da mídia, são documentos que circulam em sindicatos… Da categoria de comunicação, em congressos, simpósios, seminários… Tem gente que quer isso mesmo. Mas é uma minoria que nunca consegue…


– Sempre tem gente…


Kotscho – Sempre tem, sempre tem… Desde sempre, desde o começo, quando eu trabalhava lá com ele [Lula] como secretário de imprensa. Nunca houve nenhuma medida de controle da imprensa. Aí vão dizer assim: “Ah, mas o Estadão…”; o Estadão é uma questão do Judiciário [não pode o jornal noticiar nada sobre falcatruas do filho do José Sarney, Fernando, e o Estadão está há 400 dias sob censura: do Judiciário, mas é censura]. Todos os problem as que existirem de controle da informação são da Justiça, não tem nada a ver com o governo federal. Nem do atual governo Lula. E conheço muito bem a presidente eleita, Dilma, e não vai ter.


O Franklin Martins, nesse seminário da TV Cultura, disse, com todas as letras:


“Controle social da informação é bobagem por um motivo muito simples: é inviável”.


Sabe?, não dá pra fazer. Quem vai controlar? Como vai controlar? Quem controla, somos todos nós. Controlamos sempre…


– Dá pra controlar, não precisa nem levantar, hoje…


[Jô faz mímica simulando uso do controle remoto]


Kotscho – Não tá gostando da nossa conversa, muda lá no controle remoto, compra outro jornal amanhã… É esse o controle que existe.


– Agora, tem uma coisa, por exemplo…


Kotscho – Só uma coisa, Jô, deixa eu só complementar. Quem tá falando isso, todo dia, em manchetes, esse negócio de ameaça, na campanha eleitoral se falou… Não tem. Eu me lembro muito bem, que eu sou dessa época, o Estadão ajudou a dar o golpe de 64. Ele fez reuniões dentro do jornal, que acabaram implantando a censura no Brasil, a ditadura que ele não gostou.


A Folha de São Paulo, você vai se lembrar disso, demitiu o Cláudio Abramo, que era um grande diretor de Redação, a pedido dos militares. Aí ninguém fala em liberdade de imprensa.


A Veja…


– Mas aí havia uma ditadura… reinando.


Kotscho – Exatamente, isso que eu quero dizer. Aí havia censura, e aí ninguém falava em liberdade de imprensa…


– Por isso tão rígido a…


Kotscho – A revista Veja, a editora Abril, também não falava em liberdade de imprensa, a pedido dos militares.


– Foi tão rígida, na Constituição, a medida que se tomou pra que não houvesse mais…


Mylton – Jô, você tá querendo continuar a encher o saco, vê se põe seu programa às oito da noite, no máximo às nove, porque nas altas madrugadas, pra mim é censura.


Kotscho – Olha, eu tenho mais de cinquenta anos de profissão. Eu tenho um nome a zelar. Eu não vou falar pra um grande público como o teu, aqui, uma coisa que eu acho que pode estar errada. Eu tenho certeza: não houve e não haverá nenhum risco [de cerceamento].


Bem, que o Jô Soares faça suas entrevistas sem cerceamento da Rede Globo, às claras, e não na calada da madrugada, mas tipo horário nobre, oito da noite, sem censura, não? Censura de horário.

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