domingo, 25 de julho de 2010

BURRICE A PROIBIÇÃO DE "DROGAS" II

A quem interessa
Guerra às Drogas?
A quem lucra com
Guerra às Drogas.
Por Mylton Severiano
Torno a recomendar McMáfia – Crime sem fronteiras, do jornalista britânico Misha Glenny (Companhia das Letras). E comento um capítulo sobre a Colômbia. Você sabia que ali se encontra a maior população de refugiados do hemisfério e terceira maior do mundo? São 3 milhões de pessoas obrigadas a abandonar suas casas e fugir para campos de refugiados, boa parte sem energia, com fornecimento de água precário, aonde não chega o Estado, mas um Estado paralelo, feroz, promotor de massacres, como os paramilitares.
A que se deve isto? À Guerra às Drogas.
Interrompo para receber do além mensagem com anedota recebida de uma das milhões e milhões de vítimas dessa guerra. O sujeito no jardim de sua mansão retira de um contêiner, no qual se lê Guerra às Drogas, barra após barra de gelo que, com toalhas bem secas, vai esfregando uma a uma, até que as barras desapareçam. Passa um vizinho:
“Ei! Que está fazendo aí?”
“Enxugando gelo”, responde o outro.
“Mas que insensatez! E o que você ganha com isso?”
“Dez mil dólares cada barra enxugada.”
“Puxa! Podia conseguir algumas pra mim?”
No capítulo A Marcha do Medo, Misha traça um retrato do que a proibição de algumas drogas está fazendo com nossa vizinha Colômbia. Ele entrevista uma refugiada, Susanna Castillo, que vinha com o marido criando sete filhos numa boa, depois que, em 1980, com um punhado de dólares herdados do pai dela, eles compraram uma pequena gleba na província de Meta, de terra tão fértil que lhe permitiu tocar a vida plantando banana e milho. Um belo dia, ou dia feio, chegam paramilitares que os expulsam e lhes tomam a terra. Susanna passa a viver num aglomerado chamado Três Esquinas, de choças, cabanas, barracos, onde vivem 155 mil pessoas, 80% refugiados como ela. Fica em Ciudad Bolívar, favelão sem fim nos morros ao sul de Bogotá.
De dia, a economia gira em torno da construção de mais barracos, narra Misha.
De noite, salve-se quem puder. Todos se trancam pois chega o pessoal de ao menos oito sindicatos do crime, mais seus comandantes, os paramilitares. E a economia noturna gira em torno de tráfico de cocaína e de armas.
Ironicamente, os dois únicos prédios dignos do nome por ali são um escritório do Pnud (Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento), há tempos fechado e trancado a cadeado, e uma biblioteca novinha, “cortesia do Plano Colômbia, o pacote de assistência de 4,7 bilhões de dólares que os Estados Unidos deram ao país ao longo da primeira meia década do novo século; 98% destinavam-se a fortalecer o combate das forças armadas colombianas às plantações de coca e à guerrilha de esquerda”. A biblioteca também está trancada a cadeado. Mas, acrescenta Misha Glenny, de nada adiantaria estar aberta, pois não há um livro sequer lá dentro; e, se houvesse, não seria fácil achar por lá alguém que saiba ler.
Mas que droga estão fazendo os EUA, enchendo de dólares militares corruptos, paramilitares, funcionários governamentais, numa guerra que já nasceu destinada ao fracasso? Quase 5 bilhões de dólares só entre 2000 e 2005! Para, ao fim e ao cabo, justamente realimentar a produção das drogas que eles dizem que querem aniquilar?
A quem interessa a proibição de algumas drogas? Aos que as proíbem e aos que se beneficiam da proibição: traficantes, cartéis; policiais, militares e outros funcionários públicos corruptos; paramilitares; traficantes de armas; assassinos de aluguel. Ou seja, a pior espécie de gente. Naturalmente, aí se inclui gente do DEA, o departamento ianque dedicado ao combate às “drogas”, e não está excluída gente da CIA e do Pentágono com interesses nessa “guerra”. Em fazer de uma Colômbia marionete para provocar guerra entre nós e nos enfraquecer.
Está na cara, a proibição, que parte dos Estados Unidos, veio para atrasar as nossas vidas. Azucrinar o “quintal”. Impedir a gente de crescer e aparecer. O proibicionismo, comandado por Tio Sam, garantido por suas armas, transforma num inferno as vidas das pessoas ao sul do Rio Grande, ao norte está tudo bem, a moçada lá planta sua própria maconha numa boa, os yuppies cheiram suas carreiras numa boa, e a matança, os massacres, as balas perdidas, são, como diria Noel Rosa, “são nossas coisas, são coisas nossas”, como “a prontidão e outras bossas”.
Pobre Colômbia. Pobre México. Dos latino-americanos, são colombianos e mexicanos os mais atingidos pela insanidade do proibicionismo e da “Guerra às Drogas”. Os mexicanos, aliás, têm um ditado bem apropriado:
“Pobre México: tão longe de Deus, tão perto dos Estados Unidos.”
Próxima postagem: Policial preto x Traficante preto. Todos pobres.

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