domingo, 25 de abril de 2010


UMA BOMBA DO
JAYME MARTINS
Por Mylton Severiano


                                  Foto Amancio Chiodi


JAYME MARTINS viveu uns 20 anos na China, foi locutor da Rádio Pequim para ouvintes de língua portuguesa, era amigo da minha família em Marília, interior paulista. Agora vive em Jundiaí, a meio caminho entre São Paulo e Campinas. Para o jornal Bom Dia, de Jundiaí, escreveu o artigo que reproduzo:

 Agora é extinguir os outros
dois terços dos arsenais

Desnuclearização em marcha

Por Jayme Martins


Juro que me emocionei ao ver pela TV o presidente Obama chamar o presidente Medvedev de “grande líder” e este referir-se àquele como “meu amigo”, ao assinarem um pacto para reduzir de 1/3 seus arsenais nucleares. Tal troca de amabilidades entre os líderes das duas superpotências nucleares soa como uma coroação do fim da Guerra Fria, selado com a queda do Muro de Berlim. Senti-me emocionado porque, desde que me conheço por gente, ainda adolescente, sempre fui um ativista de manifestações pela paz mundial e pela extinção das armas nucleares.
Não posso deixar de relembrar um episódio de minha vida relacionado com isso, quando fui preso pela primeira vez ao tratar de promover, em 1950, um ato pela criação de uma empresa nacional de petróleo, o que só teríamos em 1953, com a Petrobras. Bolando as trocas, o delegado de polícia de Marília queria que eu firmasse uma declaração de repúdio ao apelo do Conselho Mundial da Paz contra a bomba atômica, documento que ele acusava de espúrio, enganoso e redigido pelo próprio Stalin! Ante minha recusa, ele ameaçou:
“Se não assinar, você vai amanhã cedo de camburão para o presídio do DOPS, em São Paulo”, ao que eu rebati:
“Não importa, doutor; eu estava querendo mesmo ir pra são Paulo...”
Mas acabei sendo solto, graças à ação de amigos e pelo despropósito daquela prisão.
Minha grande esperança agora é que a reunião de cúpula inaugurada em Washington, a maior desde 1945, quando se deu a criação da ONU, se tomem medidas para a extinção gradual dos 2/3 restantes dos arsenais nucleares e se impeça que tais armas caiam em mãos de potenciais terroristas nucleares.
Jayme Martins é jornalista e meu amigo desde criancinha

Cuidado com a memória do jornalista

Por Mylton Severiano

Jayme meu amigo desde criancinha não é brincadeira, ele era moço feito lá em Marília e eu, menino. Não é figura de linguagem dizer que ele me pegou no colo, pois ele teria 17 anos e eu, 7. Data daí, cerca de 1947, minha lembrança do que ele narra acima.
Meu pai tinha uma fabriqueta de calçados e, na entrada, pôs uma cartaz contra as armas atômicas. Nunca me esquecerei da truculência. 
Foto Amancio Chiodi

Surgem dois soldados da Força Pública (futura PM) e exigem que meu pai arranque o cartaz da parede. Me lembro que recém os americanos haviam lançado duas bombas atômicas sobre Hiroxima e Nagasaki. Havia um disquinho gravado por artistas brasileiros que dramatizava a tragédia e me impressionava. Aqueles dois soldados mandando meu pai arrancar da parede o cartaz contra a bomba não cabia na minha cabeça. Não cabe.



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