quarta-feira, 5 de maio de 2010

VIDA DE JORNALISTA É UM ROMANCE


ROSE NOGUEIRA – PARTE 2

Por Mylton Severiano textos
e Amancio Chiodi fotos


No primeiro capítulo, vimos como Rose ficou órfã de pai pequenina, de como acabou no jornalismo aprendendo com um trotskista que “matéria que não tem fim, terminada está”. De como até horóscopo ela escreveu. Sua paixão por um comunista. De como, por coisas da vida, acabou abrigando em casa, quando grávida do primeiro (e único) filho, o líder da ALN, Aliança Libertadora Nacional, Carlos Marighella, inimigo número um da ditadura militar que nos infelicitou.
Paramos no ponto em que Rose, com o filho Cacá recém-nascido, recebe a visita do Esquadrão da Morte. 

Carlão, que na entrevista aparece fazendo intervenções, é um ex-metalúrgico preso em 1969 com o pessoal da VPR, Vanguarda Popular Revolucionária, foi torturado na Polícia do Exército, em São Paulo. Diz que por vezes eram os homens obrigados a ver mulheres na tortura, por torturadores “que se julgavam acima do céu e da terra”. Uma das “guerreiras” que conheceu, Encarnación, desafiava os torturadores, “fui presa pela Gestapo na França, não abri nada, não vai ser pr’um bando de moleques que nem vocês que eu vou falar”. E, para o pior dos torturadores, Tralli do Esquadrão da Morte, Rose o que era?

“Eu era a vaca terrorista, nua, nojenta, aí
o Tralli se masturbava na minha frente.”



E o Marighella caiu...
Quatro de novembro de 1969. Eu saí do hospital dia 25 de outubro. Fiquei com o Cacá uma semana em casa. Aí um dia toca a campainha, e quem é? Esquadrão da Morte.

Fleury.
Fleury. Em pessoa. Na hora eles levaram o Clauset. Reviraram a casa, parecia rato – tch-tch-tch-tch. Eles tinha as mãos muito rápidas, pareciam ratos, derrubavam livros, quadros, tudo, cortina, roupa.

Só levaram o Clauset?
Levaram porque eu falei: Não vou, não vou nada presa! Com um nenezinho? Um mês ele tem, não vou. Ele falou assim: Terrorista não tem que ter filho. Eu não sou terrorista, não vou com o menino. Ele falou: Posso usar violência. Pode, mas eu não vou. Ele encostou num móvel, só disse “ah!”, pegou dois lá e deixou comigo. Fiquei com dois tiras, numa cadeira que tinha braços, amarrada. Quando o Cacá chorava eu podia ir no quarto.

Que absurdo.
É. E eles viam nota fiscal, cadernos, até amanhecer.

E a Folha da Tarde?
Ah, quando foram procurar o Betto, eles demitiram todo o mundo da esquerda. O França, que pode contar tudo sobre a TV Excelsior. Os burros [da empresa Folha] ficavam xingando os atores, aquele Caldeira: ficava dedando os “subversivos” da Excelsior e na verdade podia ter formado um puta conglomerado de comunicações, ele não entendeu o que eles tinham na mão. Burro que nem uma porta. Terminaram fazendo no Rio.

Então a Folha da Tarde...
Virou um jornal meio bobão. Demitiram todos, menos eu que estava grávida. E veio quem? O Aggio! Que era da polícia. Me mandaram pra Folhona.

Eram o Aggio, o Horley Antonio Dextro e um tal de Torres.
Carlos Torres, o França me falou que ele era da Polícia Federal.

Amancio E informante da Aeronáutica.
Exato. E ele se queixou pro França que nem sabe por que foi parar na polícia, que na verdade queria ser jornalista. Era careca, gordinho. E trabalhava de revólver na mesa. Sabe o que eles mostravam pra todo o mundo? A carteirinha do SNI [Serviço Nacional de Informações, órgão policialesco, de espionagem]. E circulou por lá também aquele cara do SNI, Alexandre Baumgarten. Perguntei pro França se era verdade. Ele falou que sim, que ele era uma espécie de conselheiro. Era um esquema policial. E não perceberam que podiam formar o maior império do país na comunicação.

Burros mesmo.
De uma burrice extrema. Só viam subversivo em todo o mundo. E fiquei na Folhona, na Variedades, no fim da gravidez.


Então o Cacá nasce.
E eu estava com uns oito dias em casa quando a polícia chegou, e quando abro a porta não era só o Fleury. Eles jogaram o frei Fernando Brito em cima de mim. Se houvesse reação, se houvesse tudo o que eles imaginavam, os de dentro matariam o Fernando.

Paranoicos.
Imagine! Tudo paranoico. Nunca, até hoje, nunca nem encostei num revólver. Isso eu contei no livro Tiradentes – Um presídio da ditadura. Quando me lembro de mim, eu moça, com 23 anos, falando “eu não vou”, pro delegado Fleury que eu sabia que era o chefe do Esquadrão da Morte, até hoje só posso atribuir à maternidade. Igual fazem as cadelas. Elas se matam mas não deixam chegar perto dos filhotes.

Mas a [psicanalista] Maria Rita Kehl diz que não existe esse “instinto materno”.
Eu adoro a Maria Rita Kehl.

No Almanaque Brasil de Cultura Popular, com o qual eu colaboro, no Papo-Cabeça, ela disse que isso não existe, é cultural.
Eu acho que existe porque eu convivo com os animais e vejo que existe em todos. Não é diferente.

Então é da “cultura” canina...
Uai, então “cultura” animal, que nós temos. Eu sou animal.

Estou fazendo uma provocação, porque essa de não existir instinto materno eu não engulo.
É, e falam nos direitos da “pessoa humana”. É da pessoa, não? Pessoa “humana” seria a pessoa “não-animal”?

Amancio Mas já vi que dizem que não existe instinto materno.
Mas isso é uma francesa que diz, acho que Elizabeth Batender, se não me engano. Quem fez a matéria foi o Paulo Moreira Leite pra Veja.

Mas como que a Maria Rita Kehl montou nesse... nessa porca, não?
Eu não sei, acho que ela não tem filhos.

Amancio Tem.
Tem? Então ela teve de maneira bem mais racional, porque é psicanalista, e ela examina todos os sentimentos dela e coloca em algum compartimento. É uma das pessoas que eu mais respeito. Agora, eu acho que eu só fiz isso, porque podia levar um tiro ali mesmo, e porque ele falou que ia usar violência, eu só bati o pé porque tinha uma cria. E no dia seguinte, quando ele concordou em deixar minha cria, meu filho, na casa da minha sogra, no caminho pro Dops, eu fui.

O Cacá não tinha feito um mês ainda?
Tinha. Eu fui presa na madrugada de 3 para 4 de novembro, ele tinha 33 dias. No dia 4 estávamos no Dops, cheguei depois do almoço, fiquei com aqueles caras em casa muito tempo. O Clauset trabalhava no Jornal do Bairro, do Raduan Nassar [escritor, autor de Lavoura Arcaica]. E o José Carlos Abate, morava aqui perto, era o diretor.

Era o Barriga, trabalhei com ele no Jornal da Tarde.
É, é. Ele fez no Jornal do Bairro o mesmo desenho do Jornal da Tarde. Ele tinha combinado uma matéria e o Clauset não apareceu. O Abate mandou o Manuel, o fotógrafo, ir lá em casa buscar o Clauset: foi preso. Outro cara também – meu sogro deu de presente pra gente no nascimento do Cacá a troca do fusquinha que estava bem velho, por um mais novo. E o rapaz que vendeu veio trazer a chave. Foi preso (gargalha).

Amancio Eram uns trolhas.
Nem sei o nome dele, só sei que era ruivo. Até o zelador do prédio caiu. Naquela época, se uma pessoa fosse na casa de alguém e dormisse, o zelador tinha uma ficha, e era obrigado a fazer a pessoa preencher e avisar a polícia. E ele não comunicou, ele nem percebia, coitado. Muita gente foi presa. Quando cheguei na casa da sogra, que azar, ela não estava. O Cacá ficou com a faxineira, que não entendeu nada, porque eu subi com um cara com um revólver, deixei um bilhete pra ela cuidar. Então cheguei no Dops. E até hoje eu não assisto filme com história de separação de filho de mãe. Eu trabalho com direitos humanos, o Carlão que está aqui trabalha comigo e sabe, caso de separação de filho de mãe eu não quero saber. Não suporto.

Você chega no Dops então dia 4 de novembro de 1969.
Sim. Estávamos todos na sala do Fleury, tinha atrás da mesa dele aquele papelão de fazer caixa, desenhado com a caveira, com os ossos cruzados, saía muito no jornal, e “E” ponto “M” ponto, Esquadrão da Morte. E pendurado em cima da mesa dele lá em cima também tinha um papelão da mesma forma.

Só vocês?
Tinha muita gente sido presa naqueles dias, tava o Genésio Raboti, a Ana Vilma, mulher do Penafiel. Tava um marinheiro que pegaram na casa do Raboti. O Roberto Barros Pereira, engenheiro do metrô. E tinha duas moças sentadas num banco assim, do lado, e uma fez um gesto assim com as mãos pra outra, depois soube que eram policiais. No assassinato do Marighela mataram ela também.


Que gesto foi esse?
De medo de nós. Era uma morena e uma loira, a loira morreu. Uma coisa que me chamou atenção foi que todos se chamavam pelo diminutivo, Luisinho, Nelsinho, Rubinho, Fininho. Um deles atendeu o telefone, desligou e falou: Entrou! Ele entrou! Tem a ver com aquele telefonema do Marighela pra Livraria Duas Cidades. Depois soubemos que os freis foram levados à Livraria, e o Marighela telefonou, e eles deram a senha de que estava tudo bem.

Para o encontro.
Aí todo o mundo saiu correndo até uma vitrine, cheia de espingarda. Eles pegaram aquele monte de espingarda e saiam correndo, o Fleury gritou “faz a grade, faz a grade!”, a grade era pra gente descer e ir pras celas. Fizemos foto, impressão digital. À noite eles apareceram gritando “matamo o chefe, matamo o chefe!”, davam gargalhadas, batendo nas paredes. E o pessoal das celas grandes batia nas grades, e ele “matamo, matamo, matamo o Marighela!”, e no fundão, na esquininha, estava o Clauset com o Zé Maria dos Santos, o Clauset pôs a cabeça na grade e falou “é mentira, só pode ser mentira”. Eu estava na cela maiorzinha, mais comprida, no fundo, com a Sebastiana – Tiana – e a Ana Vilma. De repente chega quem? A Makiko Kyishi, fotógrafa da Folha da Tarde, presa. Porque fotografou o Marighella morto, ela é autora das únicas fotos dele, deitado lá no carro, e confirmou pra gente que ele tinha morrido. Ela foi solta no outro dia e disse “vou no jornal avisar que você tá aqui”. Nós fizemos dupla muito tempo na Folha da Tarde. Ela era um encanto, boa fotógrafa.

Amancio Nunca mais soube dela.
Ela casou com um francês, mora na França. Foi uma noite terrível no Dops, gritaria, gritaria e gritaria, a polícia xingando a gente, a gente xingando a polícia. E você pensa: como mataram o Marighella? É uma figura que transcende o corpo dele, é uma coisa muito maior. Inicialmente esqueceram a gente, ficaram em cima dos padres.



E você?
Eu só fui ser interrogada depois. É o relato que eu escrevi pr’o livro que te dei [Luta, Substantivo Feminino – Mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura, de Tatiana Merlino, Caros Amigos Editora, 2010, São Paulo]. Escrevi pensando que estava vacinada, mas não. Quando fui falar da tortura, passei mal – lembra, Carlão? Fiquei mais de uma semana e não conseguia falar nisso. É um pouco a mesma reação que eu tive lá, eu não falava – nem se eu quisesse, porque não saía. Eu fiquei inteiramente muda.

Agora de novo?
E agora, escrevendo sobre essa parte, fiquei de novo. É a parte mais chata. Eu falei da questão do Cacá. Eles levaram o Cacá lá, bebezinho, me ameaçando, dizendo que iam machucar ele.

Amancio Levaram ele lá?
Levaram. Duas vezes.

Quem levava? Os tiras?
Era um cara chamado Tralli.

O Tralli! Sim. Do Esquadrão.
Era o pior de todos. Ele que me apelidou de Miss Brasil. E vocês podem imaginar o que é Miss Brasil nas mãos do Esquadrão da Morte. Ele me trouxe um jornal, acho que Notícias Populares, com uma vaca, no Parque da Água Branca, que ganhou um prêmio, e se chamava Miss Brasil.

Amancio Mas que debilidade mental.
É. E eu tinha leite. A identificação aí ficou, a vaca. Ele me chamava de “vaca terrorista”, de Miss Brasil. Depois ele pegou esse jornal, picou, e esfregou em mim o jornal inteiro. Eu já tava tão suja, porque eu transpirava tanto, aquele cheiro horrível. Eu não tinha absorvente, e sangrava demais. Usava papel higiênico. Tava toda machucada. Cheirava a sangue. Tem a história dos quarenta dias. Me lembro bem. Tinha muito sangue, menstruava sem parar. E não tinha nada a fazer, a gente tinha uma piazinha, eu me lavava assim com a mão, enxugava com papel higiênico, era isso, e não parava. E tinha leite. Eu mesma tirava, porque doía. Cheirava a leite, leite azedo. E eles não me deixavam tomar banho. Era a “vaca terrorista”, nua, nojenta, fedida, um fiapo de pano de chão. Aí o Tralli se masturbava na minha frente.

Inacreditável.
Era um horror aquele cara. Não podia me ver que fazia assim [esfrega as mãos em atitude de fissura]. Eu tinha pavor, sentia tanto medo, achava que ele ia me matar. Ele e o Fleury me xingavam muito, porque eu cheirava muito mal. O Tralli me beliscava e me batia muito.



Mas eles não interrogavam?
Não falavam nada. Esse livro tem muito a ver com isso. Eu vi lá o relato das outras mulheres, é tudo muito parecido. Essa parte sexual. Não envolvia interrogatório, era só apanhar, ser maltratada, ele se masturbava. Eles tinham mania de botar objetos na gente.

Era só para atormentar então.
É. Comecei a ter febre, febre, febre, a passar mal. Mandaram um médico, que falou que chamava Padilha. Ia um médico torturador também, devia ser daqueles que a gente conhece, pra reanimar a pessoa pra apanhar mais. Ele tinha uma piada particular, dizia assim: “Eu sou do pronto-socorro da Barra Funda, que fica lá em Santana – quá-quá-quá-quá”, e ria, ria, olha que débil mental.

Amancio Tudo drogado.
Acho que sim.

Vilma Psicopatas.
Ah, sim, que se você morresse não tinha a menor importância pra eles. Você era um treco pra ser usado. Mandaram me dar uma injeção pra cortar o leite, porque o Tralli se incomodava com o leite que escorria.

Psicopatas mesmo.
Totalmente. Eu tentei bater no enfermeiro, fui pra cima dele. Achava que enquanto tivesse leite eu tinha ligação com alguma coisa. Com o resto eu não me incomodava. Peguei a latinha com a seringa e joguei no chão. O enfermeiro chamou outro cara, um tira que ele conhecia, o outro pegou uma cadeira que tinha lá, quebrou a cadeira na parede, pra me assustar – “cala a boca!”, ele berrou. Eu levei um susto, o cara me deu a injeção aqui na coxa. Mais tarde, o médico que fez meu parto me disse que eu tinha tomado uma descarga de estrógeno, que deve ter causado – junto com toda a sujeira, não tomava banho, sangue pisado, urina – uma infecção puerperal, que esteriliza. Por isso nunca mais tive filhos.

Jesus!
Fora outros abusos que podem ter contribuído. Um horror. E nessa fase eles não perguntaram nada. Mostraram uns livros, “conhece alguém?”, não, não conheço ninguém. Na história do Marighella mostravam fotos, “esse cara dormia na sua casa”, eu falava “mas esse homem é o seu Menezes, amigo dos meus amigos que são da Igreja”. Um deles falou “ah, mas ele usava peruca”, e eu disse “é, acho que usava”, e foi a única coisa que eu confirmei.


Isso durou um mês.
Depois de um mês, começou a apertar, apertar, quando levaram o Cacá. Só pude tomar banho quando chegou lá a Elza Lobo, ficou comigo na outra cela. Ela era funcionária, acho que da Secretaria da Educação.

Mas apertaram por quê?
Por causa do Betto. Falei “ora, o Frei Betto era meu chefe no jornal”, “você sabia que estava sendo procurado?”, “sabia, ele ficou lá em casa, sim”. Porque acharam sabe o quê do Betto na minha casa? Uma maleta que ele deixou, com coisas pessoais, fotos dele vestido de padre, do noviciado. “Era meu chefe de reportagem lá da Folha”, não adiantou, era todo dia, todo dia. Como a moça que chegou comigo, a Vera Nicoletti, essa quase mataram, foi levada da cela desmaiada, com a cabeça muito machucada.

Quase mataram.
Eles levaram ela e pensei que tinham matado. Trinta e tantos anos depois a gente se reencontrou pela internet. Mas chegou a Vera, muito machucada, e disse “o teu nenê tem um bercinho azul?”, um moisés como se chama aquele de carregar, falei “tem”, e ela disse que tava lá em cima, um nenezinho. Eles diziam “nós vamos buscar aquele moleque”, “queima com cigarro”, “quebra a perna”, o outro falava, era assim. Eu achava que eles não iam fazer isso, não iam chegar a esse ponto. Eles foram buscar minha sogra, dizendo que a gente ia receber visita, e ela foi e levou o nenê. Não era isso: eles botaram a Vera lá pra ela me contar que o Cacá estava lá.

Amancio Fazendo terror, não?
Terror. Imagine um cara que fala uma coisa dessas, vou quebrar, vou queimar.

Amancio Eles que eram terroristas, não?
Eles eram terroristas. Terrorismo de Estado. Teve uma segunda vez que levaram o nenê, o carcereiro avisou, o seu Pascoal, que era muito católico. Era melhorzinho, porque tinha um muito corrupto chamado Adão. E nós tínhamos um colega de prisão famoso na época.



PRÓXIMO NÚMERO
BREVE. O inusitado colega de prisão de Rose, conhecido como “advogado do diabo”, que acabou revelando-se nada demoníaco. Veja outras histórias de Rose na Parte 3, aqui neste blog.
As sequelas que Rose sofreu, “usavam palmatória, fiquei roxa; e o Tralli beliscava”. O fim do sonho de ter filhos. Os interrogadores eram insanos, mais perigosos que uma ursa à qual roubaram os filhotes. Não perca a Parte 3.

Nenhum comentário:

Postar um comentário