sexta-feira, 28 de maio de 2010

VIDA DE JORNALISTA É UM ROMANCE



ROSE NOGUEIRA – PARTE 3

Por Mylton Severiano textos
e Amancio Chiodi fotos


No primeiro capítulo, vimos como Rose ficou órfã de pai pequenina, de como acabou no jornalismo aprendendo com um trotskista que “matéria que não tem fim, terminada está”. Sua paixão por um comunista. De como acabou abrigando em casa, grávida do primeiro filho, o líder da ALN, Aliança Libertadora Nacional, Carlos Marighella, inimigo número um da ditadura militar. De como uma noite recebe a visita do Esquadrão da Morte e será torturada no Dops paulista. Vimos na Parte 2 os padecimentos de Rose nas garras da escória da polícia, gente da pior espécie que hoje, para nossa decepção, o Supremo Tribunal Federal, resolve perdoar, confirmando a anistia que a ditadura nos enfiou goela abaixo a pretexto de “pacificar” a nação. Na Parte 2, paramos no ponto em que Rose conta que havia um colega de prisão surpreendente. Quem estava perguntando no momento era o Amancio Chiodi, e na sequência saberíamos que Rose temeu ser levada ao “barranco”.

“Fiz um exercício assim: como
será a morte por fuzilamento?”

Amancio Eles que eram terroristas, não?
Eles eram terroristas. Terrorismo de Estado. Teve uma segunda vez que levaram o nenê, o carcereiro avisou, o seu Pascoal, que era muito católico. Era melhorzinho, porque tinha um muito corrupto chamado Adão. E nós tínhamos um colega de prisão famoso na época, o Leopoldo Heitor.

Caso Dana de Teffé.
Exato, o “advogado do diabo”. Foram buscar o Leopoldo Heitor como “subversivo” também, sei lá por quê.

Amancio Mas o que ele veio fazer em São Paulo?
Não sei, veio, ficou lá, saiu dizendo: “Vocês não vão me esquecer. Eu vou denunciar isso.” E, quando eu estava no Tiradentes, saiu no Jornal da Tarde, se não me engano, a carta que ele mandou pro Buzaid [Alfredo Buzaid, ministro da Justiça do Médici, nazista cujo filho Buzaidinho estava entre os rapazes que estupraram e mataram a menina Ana Lídia, de sete anos, em Brasília]. Dizia assim: Senhor ministro, de uma maneira ou de outra fiquei sabendo... e relatou as torturas. Ele foi a primeira pessoa a denunciar, nós temos de agradecer muito a ele.

Impressionante. Estamos em 1970 já?
Não, é dezembro de 1969. Eu fui para o presídio Tiradentes nas vésperas do Natal. O Leopoldo Heitor foi quem ensinou pra gente um monte de coisas sobre a cadeia. Você nunca pergunta por que o outro está lá. O bom cabrito não berra. Como ele tinha dinheiro, deu pro carcereiro Adão, que era corrupto, pra trazer sanduíche de mortadela pra gente. Também pra comprar uma garrafa térmica, pro café. De manhã passava o café com pão, ele dizia “cadeia é assim: pega o máximo que você puder de pãozinho, porque você tem alimento pro dia inteiro”. E pra mim: “a térmica é pra você, tem que tomar café, levantar o ânimo”. O Leopoldo foi uma surpresa. Mandou comprar também molho inglês Jimmy. Hoje nem posso ver aquilo, passo no supermercado nem olho. É um molho saboroso, bem salgado, põe no pão, você consome sal, e bebe bastante água, você não pode perder água nem sal, era isso que me dava fraqueza.

O cara tinha prática de cadeia.
Aquele prato que vinha no Dops, de plástico, eu nunca comi, fiquei mais de cinquenta dias lá, eu tinha nojo, da colher que também era de plástico, com cabo quebrado. O feijão vinha com uma água, e folhas de couve em cima...

Carlão ... vinha lá no presídio Tiradentes.
Fiquei muito magra, porque não tinha fome nenhuma, não conseguia comer. Isso incomodava eles, “só uma vaca terrorista mesmo, acabou de parir e fica magra”. E o Tralli, aquele filho da puta, falava “ela tá magra mas tem uma bunda de vaca”.

Amancio Nossa, como eram doentes!
E me deitava em cima da mesa, me segurava pra todo o mundo ver. E eu apanhava, ali de bruços em cima da mesa. E todas as outras coisas.

Batiam de cassetete?
O Tralli gostava de me passar a mão. Uma vez eu comecei a gritar, nem deu pra ver, um me segurou por aqui...

Pela nunca.
É. E me batia de tapa. Tapa, tapa mesmo, sei lá com quê que era. Eu acho que era tapa de mão. Eles usavam palmatória. Fiquei inteiramente roxa. E o Tralli beliscava.

Carlão Eles costumavam bater nas pernas, “isso aqui é pra você não andar mais”.
No pé. Batiam na sola do pé. A dor é absurda. A dor não te deixa pensar. Só depois você pensa, “puxa, fui abusada”, não te leva a pensar qualquer coisa da vida. Me lembro que quem falou uma vez sobre a tortura, e eu pensei “nossa, é isso mesmo”, foi o José Genoino, dizendo assim: “seu corpo pede pra você: fala, inventa qualquer coisa, pra parar; e a sua cabeça fica falando: não!, tem que resistir, tem que resistir”. Fica dividido, mente e corpo, são partes divididas. Ele falou exatamente o que eu sentia. O corpo era uma coisa, eu era outra.

O corpo quer parar de sofrer, mas na cabeça tem alguma coisa forte ali.
Essa batalha nossa contra tortura até hoje, o Carlão, eu, a Vilma, é porque é uma coisa que volta. Estou falando com vocês mais à vontade porque acabei de passar por um processo de catarse dois meses atrás, escrevendo para o livro. Percebi claramente: estou conseguindo trabalhar isso melhor na cabeça. Normalmente, se começasse a falar sobre aquilo eu ia entrar no chuveiro e ia ficar chorando lá.

O Granville não conseguiu falar pra gente, para os fascículos sobre a ditadura militar.
Teve uma moça que foi ser entrevistada e falou que não sabe se passou por isso ou não, que contam pra ela e é como se ela tivesse imaginado. E teve gente que passou por coisa muito pior, por exemplo, as que estão no livro. Todas têm um relato muito parecido. Eu sempre achei que essa coisa feminina, da “vaca terrorista”, do abuso, fosse uma coisa um pouco ali comigo. Porque aquele Tralli era um tarado.

Amancio Era um sistema.
Era. Todas, todas que tinham criança passaram pela mesma ameaça. A Eleonora Menicuci, que é médica, está nesse livro, tinha uma menininha, de um ano, eles levavam a menina, deixavam ela arrebentada a um metro e pouco da criança. Só mostravam, mas não deixavam ela tocar na menina. E as mesmas ameaças. Teve uma que fala que foi estuprada quando saiu do pau-de-arara. Como é possível? Mais do que psicopata. No pau-de-arara você fica de ponta-cabeça pendurada, amarrada, sua circulação praticamente para, a dor é horrível, eles te dão choque, batem, você faz xixi, faz cocô, tudo junto. Essa foi no Rio.

E eles querem anistia pra esses caras.
Não é um absurdo? Isso é crime de lesa-humanidade continuado, porque eu tenho sequelas, fiquei estéril. O Carlão ficou estéril. E tem a síndrome pós-traumática. Passei grande parte da minha vida tendo pesadelos horríveis, incomodando meus maridos, acordando à noite, tendo medos que não precisava ter, arriscando às vezes quando não precisava arriscar.

Que tipos de medo?
Ah... dormir de porta aberta, dormir de luz apagada – não consigo direito, até hoje. Eu tive todo esse sofrimento nessa época, mas também conheci as pessoas mais extraordinárias. Isso me fez prosseguir num monte de coisas na vida, às vezes arriscando, mas sem aquele pé-atrás. Depois que saí da prisão, tudo o que aconteceu comigo, inclusive isso aqui agora da gente comer casquinha de pão com margarina, é lucro.


(Entre gargalhadas gerais) Que maravilha.
Esconder gente na TV Globo, só algumas pessoas sabiam. E todos os experimentos, tudo, tudo. Eu só não como quiabo.

Eu adoro quiabo.
Eu não, eu adoro jiló.

Eu também.
Jiló que é uma beleza, fritinho. A única coisa que eu não consigo engulir é quiabo – eu engulo sapo! Aquela baba não me deixa engulir.

Ah, mas então você não sabe fazer quiabo.
Eu não sei fazer.

Bem, vamos voltar ao caso: quando vai para o presídio Tiradentes, muda tudo, não?
A gente só ia pra lá quando tinha a prisão preventiva decretada, a minha é de 18 de dezembro de 1969 e minha lembrança é de ir já quase no Natal. Minha família foi me visitar, minha mãe, que é um barato, me levou um vestido muito bonito, marrom e amarelo estampado e uma echarpe amarela. Mas nas visitas costumávamos ficar bem bonitas. Uma emprestava maquiagem pra outra.

E o bebê, não foi?
Foi, mas eu tinha pavor que levassem ele. Às vezes eu pedia pra não levar. Ao mesmo tempo, quando levavam e ele ia embora, eu chorava muito. No Tiradentes você não estava mais na mão do Executivo, tava na mão do Judiciário. Mas o juiz às vezes autorizava levar você de volta para mais interrogatórios, de repente alguém foi preso e te citou de novo. Eu me lembro da Cidinha Santos, de Ribeirão Preto, da ALN, presa fazia meses quando o pai dela caiu, e ela apanhou tudo de novo. Ela tinha falado coisas diferentes do pai. Ela pegou uma ferida na perna muito feia. Um encanto de pessoa a Cidinha.


As visitas eram quando?
Quartas e sábados. Como eu era casada com preso, eu recebia visita no pavilhão masculino: casada recebia visita junto com o marido. Outra coisa que me deu depressão foi quando meu pai morreu. Ele só me visitou uma vez. Me ver presa ele falou que foi a pior coisa da vida dele. Um dia ou dois depois morreu.

E as condições do presídio?
Nós pedimos aos advogados para conseguir material de limpeza. O piso tinha crosta de sujeira, uma coisa preta no chão, com gordura. A gente raspava com uma faquinha. Era assoalho de madeira. O Tiradentes foi um dos lugares onde reuniam escravos. A torres onde a gente ficava, era redonda, eles ficavam concentrados ali antes de ir pro interior. Depois fizeram o presídio. Monteiro Lobato passou por lá, e japoneses na Segunda Guerra. A gente ficava em cima do pavilhão dos presos comuns.

Carlão Vocês se comunicavam por espelhinhos.
E aprendemos a comunicação dos surdos-mudos. Mas eu não conseguia. Os presos comuns ficavam ali [gesticula rápido]. Eu ficava com inveja, não tinha esse talento. Fiquei muito amiga da Hilda, viúva do Virgilio Gomes da Silva. As quatro crianças dela foram pro juizado. E avisaram a família da Hilda, que foi lá – a família – tirar as crianças do Juizado. Os dois mais velhos, o Vladimir e o Virgilinho, com sete e oito anos, foram levados a várias casas pra ver se eles queriam ficar com aquelas famílias. Iam dar um sumiço nas crianças.

Que nem fizeram na ditadura argentina.
Ensaiaram aqui! Acho que não tiveram coragem. A menininha, a Isa, tinha quatro meses. Os meninos deitavam do lado do bercinho e amarravam a menina neles, com medo que levassem a Isa, porque falavam pra eles que ela estava lá pra adoção. Como ela ficou doente, com desidratação, não foi adotada. Não deixaram levar.

E aí a família da Hilda buscou os filhos dela.
Então. Daí, atrás do Tiradentes tinha a rua Três Rios. Na janela tinha a grade e atrás uma chapa de ferro. A gente só conseguia ver dos lados. E num dos lados dava pra ver a esquina, que tinha um poste. Então combinavam com a família da Hilda, levavam as crianças pr’aquela esquina, do lado daquele poste. A gente ficava fazendo sinal com pedaços de pano, pra eles ver que a gente estava viva. Ficavam os quatro ali paradinhos, do lado da tia, inesquecível, parecia uma estátua de pedra. E a Hilda na grade, chorando, gritando. Nem a arte eu permito que faça separação de mãe e filho. É preciso falar pra Maria Rita Kehl que a maternidade – eu gosto dela, gosto muito, muito do pensamento dela, ela tem um livro chamado Ressentimentos, uma das coisas mais profundas que eu li...

... mas não pisou na bola nessa vez?
Não. Ela sentiu a maternidade de outra maneira, mais suave, feliz, mais sem compromisso com a sobrevivência mesmo do seu corpo.

O engraçado dessa história é que, na semana em que saiu este Almanaque, que eu li – e eu não participei da entrevista – fiquei estarrecido [a fala exata de Maria Rita Kehl, no Almanaque Brasil de Cultura Popular de maio de 2000, quando fazem a primeira pergunta – “O que é ser mãe?”, ela responde: “Do ponto de vista da psicanálise, é uma construção cultural.”] E por especial coincidência, dias depois minha cadela deu à luz cinco filhotes e eu saí procurando onde, era uma chácara, e encontrei ela entocada num oco de terra.
Pra poder proteger as crias.

Fazia dois dias que ela não aparecia, fui levar leite pra ela. Quando aproximei a tigela da toca, ela avançou em mim e me deu uma mordida no braço, no dono dela, que tava levando um leitinho pra ela! Então não entendo como podem dizer que instinto materno é construção cultural.
Quando peguei o meu cachorro Requinho, eu tinha outra cachorra, a Menina, que foi pro céu. No primeiro dia ela estranhou ele, era magrinho, cachorro de rua. No segundo dia, ela foi no banheiro, no box, fez um ninho lá com um acolchoado, ficou dez dias sem sair de lá, só vinha comer. E lambia ele, sem parar, a veterinária falou “nossa, ela vai machucar os olhos dele”, e ela se ajeitava como se fosse dar de mamar, mas ele já era grandinho, ela achou que tinha parido ele, e queria que ele mamasse. E eu tenho aí no computador, a filha de uma amiga me mandou, tem uma feira em Teresópolis, alguém largou uma caixa lá com seis filhotes, e tinha uma cadela ali perto também pra adoção. Ela foi chegando, tem as fotos, e foi tirando um por um da caixa, deitou e deu de mamar pra eles, aí você vê nas últimas fotos o leite saindo da boquinha deles. Você cria leite! Mãe adotiva passa por isso. Se precisar amamentar, ela cria o leite. Então acho que a Rita viveu outra situação de maternidade.


Nos provérbios da Bíblia li que é melhor enfrentar uma ursa a quem roubaram os filhotes do que no insensato que acredita na sua loucura. Então voltando ao assunto anterior, eram todos uns insensatos, não?
Todos. Todos. Por exemplo, eu li a entrevista do general Leônidas Pires Gonçalves na Globo News, feita pelo Geneton Morais Neto. Com o distanciamento de alguns dias é que eu vejo como é patético, como é psicopático, não tem nada de políticos, tem de criminosos. Eles eram criminosos. É isso. Todos criminosos.

E o Newton Cruz?
Pois é, o sujeito dizer com orgulho que sabia que ia haver um segundo atentado [no pavilhão Riocentro, 30 de abril de 1980, durante um show pelo Dia do Trabalho, quando uma bomba explodiu no colo de um sargento, matando-o e ferindo o capitão que dirigia o carro, antes que praticassem o atentado], e que ele chamou os dois caras no Hotel Leme, no Rio, e falou “não vai ter atentado coisa nenhuma”, e ele evitou o atentado. E conta com desenvoltura que foi procurado pelo Paulo Maluf, que achava que ele era um matador, e ele fala “o Maluf queria que eu matasse o Tancredo”. É tão louco tudo isso, e diz que o Maluf justificava “nós não podemos entregar”, entregar a rapadura, que era isso, eles queriam o país para eles. Mas a vida da gente valia nada.

Muito louco mesmo.
E tem outra história do tempo da ditadura, que eles ganhavam por preso. As empresas participaram. Financiavam a Oban, davam prêmios pra eles. Teve gente presa que ouviu isso, “ora, você não vale nem trezentos dólares”. Essas empresas deviam ter vergonha.

Vilma Essa história das empresas ainda tá pouco divulgada.

Mas a gente sabe por quê. Tá tudo na mão deles! A Folha tá com eles, a Globo tá com eles. A gente sabe quem era, a Ultragaz, a própria Folha entregava a eles seus automóveis depois de alguma quilometragem, passava pra Oban – aFolha de S. Paulo que tá aí posando de pluralista.
Com a Folha ainda tive outra coisa. Saí da prisão, fui morar com a mãe do Clauset, foi então que fui conhecer o Cacá.

Você ficou quanto no Tiradentes?
Nove meses.

Não houve condenação?
Não, aí fui responder a processo, assinava toda semana na Auditoria Militar, não podia sair da cidade, não podia chegar em casa depois de dez da noite, não podia trabalhar! Achei que estava enganando eles porque fui trabalhar numa revista,Construção, na editora Pini, no Bom Retiro. Era revista técnica, achei que eles não iam se incomodar. Quando peguei meu dossiê do SNI, tava anotado: tempo que trabalhei lá, que fazia...

Vilma Ficavam monitorando, não?
Aliás eles gastavam muito dinheiro com essas coisas.

Amancio E como foi com a Folha?
Ninguém da Folha foi me visitar. Quando voltei lá, ainda era o Piazon [chefe do Pessoal]. O Rangel Pestana, advogado da Folha, foi gentil, “olhe, não vai dar pra você continuar aqui”, falei “nem eu quero”, e tinha de assinar uma ficha, assinei, fui embora. Queria trabalhar de novo. Bom, o que ocorreu? Anos depois, 1997, pra escrever a minha parte no livro com o Alípio Freire [sobre o presídio Tiradentes], primeira vez que fiquei ruim. Voltei na Folha dizendo que ia me aposentar e precisava da ficha funcional, o advogado me disse que eles eram obrigados a guardar. Aí tá lá: que eu saí por abandono de emprego, e a data do nascimento do Cacá está 9 de agosto, não 30 de setembro.

[Necessário ler nas entrelinhas do próximo período para se entender o ponto de vista do mau patrão. Rose segue falando]

Em 9 de dezembro, portanto, daria os três meses de licença-maternidade da época. E começo de dezembro era quando eles me apertaram daquela maneira horrível [no Dops], quando perguntavam do Frei Betto e eu insistia que ele tinha ido embora pra Alemanha, e realmente ele me falou que ia pra Alemanha, e ele já estava preso no Rio Grande do Sul, a gente não sabia, a gente estava incomunicável. Eles queriam o quê? Penalizar o Betto. Depois soube que eles perguntavam lá pro Betto também no Rio Grande do Sul, sobre o que eu sabia, e ele falava que não adiantava, que eu não sabia mesmo onde ele estava.

Isto coincide com que situação que você vivia?
Coincide com a parte que eu tava pior, que tomei a injeção, e com a data que a Folha me deu “abandono de emprego”, quer dizer, sabiam meu estado. Aquele médico falou “se não melhorar até à noite, vai pro barranco”, e eu acreditei. Essa também foi uma noite horrível, fiz um exercício assim: “Como será a morte por fuzilamento, se eu levar um tiro?”

Como seria?
Acho que seria uma coisa prateada. Tentei fazer esse exercício. Estou muito melhor porque ter escrito um mês atrás e ter passado mal, se soubesse que a gente ia falar disso, um mês atrás eu não ia conseguir falar, entende?, porque eu nunca consigo direito, não consigo, não consigo. Outra coisa é que depois fui tentar levar minha vida junto com meu filho do jeito que eu podia. E fazendo o que eu sabia, que era sendo jornalista. Tentei de todos os jeitos e acho que fui uma boa jornalista.

Você é! Rose, a gente volta a conversar. Tem nós na TV Cultura, a morte do Vlado; sua criação da TV Mulher na Rede Globo, a Marta Suplicy na seção pioneira sobre sexualidade etc. Voltaremos a entrevistar você para este blog, ok?
Ok.

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