sexta-feira, 25 de junho de 2010

DEU NA INTERNET


osgemeos é capa da revista Juxtapoz; aqui, o Kassab mandou tinta cinza em cima deles

Por Mylton Severiano



A dupla brasileira osgemeos é capa da edição de julho da Juxtapoz, que traz longa entrevista dos artistas plásticos e grafiteiros paulistanos, eles que há cinco anos já haviam sido capa da revista de arte norte-americana. Quem os entrevista é o artista e escritor Caleb Neelon, que conheceu o trabalho dos moços em 1997 e para quem eles serão “artistas cujo trabalho será admirado por nossos netos”. Gustavo e Otávio Pandolfo falam de infância em São Paulo, família e o mundo de fantasia que criam.
“Nós fomos duas crianças que gostávamos de tentar destruir tudo”, é a chamada que a revista traz na capa.
A Juxtapoz foi criada em 1994 e é uma das revistas de arte e cultura pop mais populares do mundo.
Vi há pouco em Lisboa exposição, ou melhor, instalação dos rapazes, coisa mais bela. Uma bateria, um teclado eletrônico, mais duas guitarras à disposição do público, logo na entrada, e enquanto nos transportamos para aquele mundo mágico, vimos (e ouvimos) vários espectadores se divertindo com os instrumentos, inclusive uma jovem mãe e sua gatinha duns 7 anos que não fizeram feio, a mãe na guitarra, a pequerrucha na batera.
O trabalho exposto em Lisboa compõe-se basicamente de um casario e personagens e cenas do cotidiano do povo brasileiro pintados ou grudados nas paredes de uma salona, um rádio velho de onde sai o som de músicas antigas bem baixinho (preciso grudar a orelha para ouvir), uma saleta de espelhos nos fundos, na qual você entra e se vê reproduzido infinitamente, tudo deslumbrante, emocionante.
Me lembrei que, até uns três ou quatro anos, nunca havia ouvido falar em osgemeos, até que passando de carro vindo da zona leste de São Paulo rumo ao Minhocão, vi do lado esquerdo um grafite gigante no paredão, coisa de louco, mil cores e mil formas, ao que um amigo que estava de copiloto me pediu para olhar o paredão da direita: coisa horrorosa, uma muralha pintada de cinza, soturna, sinistra. Ele me explicou: o projeto “cidade limpa” do prefeito Kassab considerou a obra de arte dos gemeos como “sujeira” e mandou tinta em cima. Bem, ficou a cara do Kassab.
No dia seguinte, vi nos jornais que alguém alertou Kassab de que aquilo era obra de arte, a tempo de salvar o grafite do lado oposto. E mais: naquela semana, os rapazes estavam expondo simplesmente numa das galerias mais importantes do planeta, se não me engano em Londres.
A direita adora “limpar” – limpeza étnica, limpeza “social” (banco e calçada antimendigo), limpar o campo de sem-terras...

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