terça-feira, 1 de junho de 2010

DIARIO DE CATALUNHA

Por Mylton Severiano

Voo Lisboa-Barcelona via Vueling, operado pela Iberia, nos mostra o fosso entre europeus e brasileiros em matéria de revista de bordo. Tirante o Almanaque Brasil de Cultura Popular, que vai a bordo da TAM, no qual escrevemos, Katia Reinisch e eu, a página Em Plantando Tudo Dá, as revistas de bordo brasileiras só tratam de fofuras. No voo Lisboa-Barcelona encontramos uma Esquire em espanhol do mês de maio, capa com Mandela de terno e um punho cerrado erguido, mas expressao serena, uma epigrafe em que explica que sua África do Sul é um país que te enfia na cadeia e depois te torna presidente (caso em que, guardadas as proporcoes, de fato aproxima Mandela de Lula e, caso seja eleita, Dilma).
Outra matéria boa pega o escritor uruguaio Eduardo Galeano, cujo Veias Abertas da América Latina Chávez presenteou Obama quando se encontraram. O editor da reportagem inteligentemente apenas transcreveu pensamentos de Galeano, o que ele tem de melhor. Exemplos:
 
O futebol nao é apenas o profissional que enche estadios. É um esporte que se pratica com nada: eu mesmo quando era menino jogava com uma meia cheia de papel velho. Com o Mundial da África do Sul, se reconhece a qualidade esportiva de mais alto nível do continente, que botou tantos jogadores milagrosamente negros nas selecoes dos países branquissimos.
 
Mandela me parece uma pessoa muito digna de admiracao, nem só por figurar até 2008 na lista de terroristas dos Estados Unidos. Ou seja, parece ser também digno de meter medo.
 
Os politicos, de esquerda ou direita, padecem de inflacao palavrória, que é pior que a monetária. Numa conversa com a neta de Gandhi, esta me disse que quando pequena aprendeu com o avô que um dia de jejum semanal de palavras eram bom para a saúde. Suponho que quis dizer que esse dia de silêncio alimentava as palavras que seriam ditas depois.
 
A luta contra o terrorismo gera terroristas. Tanto em Afeganistao como em Israel há gente tomada pelo desespero que se torna louca e recorre ao pior. Os atores do terrorismo foram fabricados pela maquinaria militar, a dona do mundo. O mundo destina seus melhores recursos ao fabrico da morte. Um jornalista de meu país que me influenvciou muito, Juan Carlos Quijana, me dizia que nunca se devia pecar contra a esperanca. Eis algo que os politicos deveriam ver desde que tomam o café da manhan até se deitar: nao se pode decepcionar a esperanca da gente.
 
Abracadabra é a palavra mais bonita de todas as línguas; é mágica, abre portas. Vem do hebreu antigo e tem muitas interpretacoes, mas a que mais gosto é a que significa "Envia teu fogo até o fim". Isto é o que eu quero: enviar meu fogo até o fim.
 
Meu tipo de herói é um taxista do Mexico que me serviu. Me contou que trabalhava 12 horas no taxi e, no pouco tempo que lhe restava, fazia consertos de eletricidade e outras coisas para completar o ganho, pois tinha quatro filhos. É a estas pessoas que eu admiro.

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