quinta-feira, 21 de outubro de 2010

TÉCNICAS DE CONTRA INTELIGÊNCIA: FALSA INFORMAÇÃO, DESINFORMAÇÃO E DECEPÇÃO

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Antonio Celso Ribeiro Brasiliano*

INTRODUÇÃO


Neste artigo discutiremos sobre algumas das mais exóticas contramedidas usadas para prevenir a perda de informações sensíveis. Para a maior parte dos profissionais, os termos falsa informação, desinformação e decepção são sinônimos. Para o profissional de Inteligência são consideravelmente diferentes. Estaremos tratando com cada um desses termos no interesse da precisão tanto quanto da aplicação. A falsa informação estaria fundamentada em erro ou ignorância. Desinformação já mostra uma conotação de malícia e é tipicamente encontrada na área ofensiva da inteligência. A decepção, encontrada mais freqüentemente na área defensiva da inteligência, embora tenha também uma clara conotação ofensiva, especialmente quando usada em âmbito internacional, é comumente referida numa maneira mais politicamente correta como gerência da percepção.


FALSA INFORMAÇÃO


Para nossos propósitos, usaremos falsa informação para descrever aqueles falsos entendimentos, aqueles elementos confusos que os concorrentes em negócios obtêm em suas pesquisas — seja através de seus próprios erros, seja através de falsos passos — e que são largamente passivos em termos do papel da companhia-alvo. Por exemplo, se seu concorrente descobre alguma coisa através de um artigo de jornal que está total e completamente errado, e que você não tem nada a fazer com a inexatidão do repórter, seu concorrente é a vítima de uma falsa informação. Se o repórter se baseou em respostas de pessoas que não sabiam a coisa certa ou mesmo se exageraram nas dimensões relatadas, é erro dele e das fontes e você não fez nada propositadamente para criar esse falso entendimento.




Por extensão, se você vê o seu concorrente cometendo erros ou seguindo um caminho que parece ter sido ditado por alguma coisa que você sabe ser errada, você não está obrigado por nenhuma regra ou ética de corrigi-lo. Simplesmente é responsabilidade de seu concorrente verificar a validade das informações que recebe, bem como a sua exatidão antes de tomar qualquer tipo de decisão executiva.


DESINFORMAÇÃO


Desinformação, por outro lado, é o resultado de uma atitude ativa de alguém que pensou num caminho e num objetivo para ser alcançado através da cessão de informações que deliberadamente são falsas.




Tipicamente, a informação é inserida no sistema de comunicação do alvo, em algum ponto, seja através da mídia, seja através das fontes em que se sabe que o alvo é levado a confiar e é projetada para desorientar o público. Muito freqüentemente a desinformação é idealizada no sentido de aproveitar estereótipos existentes particularmente no que se refere à cultura de um povo — ou de uma população específica. Os principais alvos da desinformação são as pessoas que estão nos extremos do espectro político ou social que geralmente possuem apenas o menor grau de tolerância e cepticismo e que sempre permitem que os mais bizarros relatos das menos confiáveis fontes influenciem seu julgamento.


Se nós tivéssemos que listar os maiores desinformadores da História, a KGB estaria em primeiro lugar. Eles trabalharam intimamente relacionados com a Novosti Press Agency, a agência oficial de notícias da URSS produziu desinformações até a queda do regime. Um exemplo representativo dos tipos de desinformação que a KGB praticava é a maneira como muitas pessoas do mundo em desenvolvimento acreditaram — e muitas ainda acreditam — que o vírus da AIDS era um germe criado pelos americanos para ser uma arma biológica, cujo programa de teste na África, foi desastroso, disseminando o vírus por todos os lugares. Isto pareceu especialmente verdadeiro quando, no final dos anos 80 e início dos 90, centenas de milhares de africanos morreram de AIDS — casos todos relatados e confirmados. Não adiantaram nada as negativas e protestos de defesa dos americanos: tudo era desacreditado. Por que? Simplesmente porque a mídia carreou as estórias nesses países. Muitas vezes essas estórias eram escritas por jornalistas que tinham sido treinados na Universidade Livre de Moscou Patrck Lumumba; outras estórias eram tiradas de fontes confiáveis e publicadas em jornais do Terceiro Mundo. E a imprensa da URSS nada tinha a ver com isso. As publicações e mesmo os articulistas não eram soviéticos. O objetivo: garantir o repúdio do Terceiro Mundo aos americanos.


Com base nisso, considere o box abaixo para entender as aplicações da desinformação em negócios. Para este caso, vamos usar o exemplo de uma empresa francesa, muito embora a mídia americana pudesse ter sido usada da mesma maneira. Talvez isso não funcione tão bem nos Estados Unidos porque a mídia nem sempre está disposta a participantes, mas isso não quer dizer que a possibilidade possa ser descartada. Mais uma vez, em ordem de apreciar isso de uma perspectiva defensiva, você tem de entender seu adversário e o seu meio de negócios. A perspectiva francesa seria que a campanha de desinformação foi usada de maneira defensiva — defendendo o seu mercado contra penetração estrangeira, essa espécie de coisa.


Espelho, espelho meu: Quem é o mais belo de todos eles?


Uma companhia americana de produtos de beleza começou a obter as aprovações necessárias para pôr no mercado um novo tratamento facial na França meses antes do lançamento que teria lugar em Julho. O seu concorrente francês primário descobriu isso através de suas fontes governamentais rapidamente. E tanto quanto os americanos, os franceses perceberam que um novo e grande mercado iria crescer em torno desse produto. E eles, os franceses, não teriam condições de lançar um produto similar no mercado antes de setembro.


O produto americano apareceu nas prateleiras na mesma semana em que começaram a aparecer artigos na mídia francesa falando sobre ele, todos citando histórias de jornais latino-americanos e orientais de alta reputação, em que se dizia dos efeitos nocivos e terríveis — queimaduras e deformações faciais em mulheres — causados por esse produto. Diziam ainda que ele estava proibido de ser vendido nos USA por falta de aprovação governamental. A resposta do público foi absolutamente previsível: o produto ficou nas prateleiras e não aconteceram vendas.


Em setembro, ou seja, dois meses depois, a indústria francesa lançou o seu produto, absolutamente idêntico ao americano, é claro que sem nenhuma referência à sua fórmula. Até hoje os franceses são donos absolutos dessa fatia do mercado.


DECEPÇÃO


Talvez o estrategista chinês Sun Tzu disse bem quando sugeriu que toda arte de guerra é baseada na decepção. Assim, quando capaz, finja incapacidade; quando ativo, finja inatividade. Quando próximo, faça parecer que você está muito longe; quando longe, que você está muito perto. Ofereça ao inimigo uma isca para atraí-lo; finja desordem e derrube-o. Quando ele se concentrar, prepare contra ele; onde ele for forte, evite. Irrite-o e confunda-o. Finja inferioridade e encoraje sua arrogância.


Estes são os elementos que você quer comunicar para o seu oponente quando você está começando a proteger a si mesmo e quer permitir que ele obtenha impressões errôneas através de seu próprio trabalho de pesquisa. Essas impressões freqüentemente gerenciam de tal forma a opinião do adversário que se torna difícil ele acreditar que sejam erradas e sobrepujam muitas vezes as análises mais rigorosas. Considere o box abaixo e você verá rapidamente o poder e a importância que a decepção pode ter.


O misticismo de Adolfo


Um dos fundamentos do Nacional Socialismo e da ascensão meteórica de Hitler ao poder foi à combinação de sua absoluta certeza em seu próprio destino e do povo germânico, com uma quase mística capacidade de prever de que maneira os adversários iriam agir e reagir.


O que não quer dizer que isso seja bom. Na realidade, é quase desastrosamente ruim.


Contudo, o correto entendimento dessa certeza, trouxe um bom aproveitamento para os Aliados. Neste caso, os planejadores da invasão da Europa sabiam bastante sobre as convicções de Hitler e seus potenciais intelectual e espiritual. Investindo nisso, eles trataram de montar uma campanha maciça de decepção quanto ao plano de invasão, visando proteger o verdadeiro local de desembarque e o dia D. Essa campanha tinha de ser absolutamente consistente com o que os alemães supunham.


Sua crença de que o desembarque ocorreria em Pas-de-Calis e não na Normandia foi corroborada por documentos e planos plantados no cadáver de um oficial inglês cuja morte, ostensivamente, tinha sido atribuída a uma queda de avião no mar. O corpo do oficial flutuou até chegar às mãos da Abwehr, em Portugal. Além disso, propositadamente os Aliados deixaram vazar informações de que a invasão seria integralmente realizada pelas forças comandadas pelo General Patton e criaram um acampamento enorme próximo ao ponto que logicamente seria o ponto de embarque para uma invasão por Pas-de-Calais. Sua quase cósmica certeza de que nenhum ataque poderia ser possível no dia 06 de junho, baseada em suas visões oraculares de meteorologia, foi corroborada pela interceptação de mensagens dos Aliados falando sobre o mau tempo e alegando a necessidade de forças de reserva.


Sua crença de que o ataque principal seria por Pas-de-Calais era tão grande que mesmo depois das primeiras e críticas 24 horas após o desembarque na Normandia, os alemães se recusavam a utilizar o grosso de suas tropas, o que certamente teria feito os Aliados recuarem para o mar. E todas as informações deixadas vazar tinham sido cuidadosamente planejadas e plantadas de forma a fazer com que Hitler nada mais fizesse do que acreditar mais e mais em suas próprias certezas.


Num muito básico nível de decepção em negócios podemos citar o exemplo do caso entre a Johnson Controls e Honeywell, descrito por John Nolan em seu livro Confidential: “Johnson Controls, uma fábrica de sistemas de controles para grandes construções, decidiu investir numa marca nos Estados Unidos e na Europa voltada para construções menores. Eles investiram cerca de U$20 milhões durante três anos numa nova tecnologia digitalizada que iria lhes permitir captar a maior parte do mercado. Uma das muitas coisas que eles fizeram para deixar seu principal concorrente, Honeywell, no escuro sobre seus esforços foi dar ao projeto o nome de código Projeto Loba, abreviatura do matemático russo Nikolai Lobachevsky, do século dezenove. As coisas foram bem até fevereiro de 1990 quando Johnson descobriu que Honeywell tinha sabido de seus esforços para desenvolver seu novo produto — exceto que eles erraram um pouco o nome. As forças de coleta da Honeywell tinham escutado Lobo ao invés de Loba. E estavam todos querendo descobrir mais detalhes. O problema era que a Johnson Controls estava ainda dez meses antes do lançamento do produto — tempo considerável para permitir à Honeywell chegar em primeiro lugar ao mercado desde que descobrissem mais sobre o produto. Uma das sugestões foi simplesmente que Johnson antecipasse o lançamento. A gerência disse que não. O lançamento teria de ser com um produto bom e não com alguma coisa que depois pudesse atrapalhar o seu lugar no mercado. Que se encontrasse alguma outra forma de deixar Honeywell fora do jogo. A Johnson Controls tinha um sistema de controle de tecnologia menor já existente, mas não lançado, nessa mesma época. Eles decidiram administrar o erro da Honeywell. Gastaram cerca de U$500.000 numa campanha de publicidade denominando o sistema menor de Lobo e que, na realidade, já era um produto a ser abandonado por ter sido superado pelo novo antes mesmo de seu lançamento. Honeywell mordeu a isca e passou a dedicar integralmente seus esforços em descobrir o que esse Lobo viria a ser. Honeywell perdeu milhões em oportunidades de mercado quando Johnson lançou o verdadeiro produto Loba, perfeito, e divulgado por toda a mídia.”


A essência da decepção é saber — ou acreditar que você saiba — quem está obtendo o quê de quem e através de que canais. E então, com esses pensamentos em mente, colocar dentro desses canais — e apenas estes canais — a informação que você quer que eles acreditem e sobre a qual possivelmente irão trabalhar. Desoriente-os até que encontrem um caminho que não mostre o que você está realmente fazendo. Propositadamente permita-lhes confusão e falsos entendimentos sobre suas capacidades, situação e limitações.


Contudo, um verdadeiramente bem desenvolvido plano de decepção ou de gerenciamento de percepção, não é simplesmente contar um par de mentiras para algumas pessoas e esperar que alguém do grupo concorrente tenha apanhado a isca. Abaixo segue as sete leis da decepção, que rende excelentes resultados no mundo dos negócios.


A primeira Lei de Projetos de Decepção


Operações de decepção não são nunca organizadas pobremente, jamais devem ser executadas por quem é orgulhoso para precipitar decisões e ter soluções repentinas e decididamente não é para os fracos do coração.


A segunda Lei de Projetos de Decepção


Antes mesmo de começar um projeto de decepção, pense sobre o efeito de seu programa sobre uma variedade de outros potenciais receptores da informação — por exemplo, se você é uma empresa de publicidade e a decepção você não planejou especialmente bem e vai para a pessoa errada e da maneira errada.


A terceira Lei de Projetos de Decepção


O número de pessoas que têm qualquer espécie de conhecimento com o projeto de decepção precisa ser o menor possível, pois é claro que você não deveria sair por aí espalhando a notícia errônea para duzentas pessoas na esperança que o barulho leve a informação. Permitir que muitos saibam acaba distorcendo totalmente o teor da informação que você deseja espalhar. E isso só leva a fazer com que o concorrente que você deseja influenciar não acredite no que lhe chega aos ouvidos.


A quarta Lei de Projetos de Decepção


Você sempre tem de proporcionar alguma medida de valor, real valor, matéria mesmo, com o propósito de dar algum aspecto de validade a todas as outras peças que não têm efetivamente nenhum valor.


Por exemplo, se você quer que seu concorrente reaja a uma peça de informação inútil, deve haver três ou quatro outras de informações de suporte que sejam precisas e verdadeiras. Isso quer dizer tão-somente peças que confirmem a possibilidade da informação principal ser verdadeira, ou seja, a informação que você quer que seu concorrente siga. A decisão de abrir informações efetivamente válidas para suportar as falsas é de responsabilidade do líder e, é claro, deve ser tomado o cuidado de divulgar informações válidas e precisas, porém, o mínimo sensível possível.


A quinta Lei de Projetos de Decepção


O que você quer que seu concorrente faça? Você precisa ter em mãos os recursos, meios, métodos e tudo o mais para determinar o quanto seu rival está seguindo a pista que você quer que ele siga. Não ter idéia do quanto o projeto está funcionando significa alto custo e pouco benefício. Em resumo, você precisa saber o que deverá fazer a partir do instante em que o concorrente esteja fazendo o que você queria que ele fizesse.


A sexta Lei de Projetos de Decepção


Você tem deve ser capaz de seguir o fluxo das informações e as suas pílulas de veneno devem ser cuidadosamente distribuídas para as pessoas certas de modo a alcançar perfeita e plenamente o objetivo almejado.


A sétima Lei de Projetos de Decepção


Esta lei é tipicamente defensiva: você tem de saber proteger suas preciosas fontes de informação. Há momentos em que você tem conhecimento de algo de grande valor, mas não pode usar por causa do comprometimento potencial da fonte. A alternativa para não usar essa informação é seguir a linha de decepção preconizada por Winston Churchill durante a Segunda Guerra Mundial: Em tempo de guerra a verdade é tão preciosa que ela precisa estar sempre rodeada por uma verdadeira corporação de mentiras. Lembre-se do caso em que os Aliados conseguiram acesso à base das máquinas de criptografia dos alemães. Eles conseguiram uma em 1939 através dos esforços da Espionagem Polonesa; Mais tarde conseguiram um modelo mais recente através de uma operação no Atlântico Norte. Se os alemães tivessem sabido que os seus praticamente indecifráveis códigos estavam sendo normalmente lidos em Bletchley Park, com certeza os teriam mudado. Porém, os Aliados tinham de ser extremamente judiciosos no uso das informações obtidas justamente por isso: não havia nenhum interesse em deixar saber que eles eram capazes de ler as mensagens codificadas. Esse cuidado chegou a extremos, como por exemplo, Churchill deixar bombardear a catedral de Coventry ainda que soubesse que esse seria o alvo principal de um raid aéreo. Se ele tivesse interceptado os bombardeiros alemães, poderia fazer com que os inimigos desconfiassem que suas mensagens operacionais estavam sendo lidas — e decifradas. Churchill preferiu assumir a responsabilidade pelo bombardeio a pôr em risco qualquer coisa que pudesse prejudicar o programa do Dia D. É claro que você jamais terá de enfrentar opções como essa, de vida ou morte, de guerra nuclear ou bacteriológica no mercado de negócios. Mas a lição está dada.


CONCLUSÃO


Um ponto importante a salientar é a decisão da empresa sobre as questões éticas. O alinhamento estratégico deve ser o marco dos profissionais de Inteligência no mundo empresarial.


A Inteligência proporciona decisões em negócios no tempo e na maneira adequados; a contra inteligência é a medida ativa para proteger as informações de negócios e também na forma de proteger seus próprios sistemas e processos de coleta de informações para negócios futuros.


Apesar de toda a polêmica nos dias de hoje sobre a aplicabilidade destas ações, é evidente que a cada dia as empresas, em função da competitividade utilizam destas técnicas para ganhar vantagem competitiva. Os americanos chamam estas técnicas, quando integradas com as de Inteligência Competitiva de Modelo Integrado de Inteligência Competitiva.


Assim, a integração dos dois processos obriga os técnicos de Inteligência Competitiva a conhecer sobre proteção e contra inteligência, visando ser eficaz na coleta. Tudo isso em benefício da toma da decisão em negócios, por parte da alta gestão.


Concluímos que segurança empresarial não deve se limitar ao que concerne ao patrimônio material da empresa, mas deve abranger — e com especial atenção — o patrimônio intelectual, ou seja, o conjunto todo de informações, conhecimentos, tecnologias, táticas, estratégias e tudo o mais que, efetivamente fazem o diferencial da empresa no mercado. É um trabalho integrado que exige tecnicidade.

* Antonio Celso Ribeiro Brasileiro é Publisher da Revista Proteger e Diretor Executivo da Brasiliano & Associados – abrasiliano@brasiliano.com.br

Um comentário:

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